Seria o ‘agronejo’ a próxima grande transformação da música sertaneja?

O ‘agronejo‘ já domina as plataformas de streaming, as rádios e as pistas de dança. Será que tem potência para se firmar como o sertanejo universitário?

Em 2022 presenciamos o nascimento de uma nova vertente da música sertaneja bem diferente da que conhecíamos até então. O ‘agronejo‘ chegou quietinho, fazendo um barulho aqui e outro ali, e não demorou para que explodisse pelo Brasil, tendo Ana Castela, considerada por muitos a sucessora natural de Marília Mendonça, como a artista na linha de frente do movimento.

Mas Ana Castela não é a única. Quase todos os sertanejos que estão surgindo como grandes promessas seguem a mesma linha do agronejo, constituindo uma identidade de agroboy e sua autoafirmação, falando sobre a indústria do agronegócio e pecuária, celebrando a vida na roça e sendo ‘caipira memo’. Aqui vale um destaque para Luan Pereira, Léo e Raphael, US Agroboy, Loubet, Bruno e Barretto e muito mais.

Fato é que o ‘agronejo’ traz um grande orgulho de ser peão, da mesma forma que fortemente promove o agronegócio. E isso começou lá com Gusttavo Lima em 2020, quando recebeu R$ 1,5 milhão para fazer uma live para a indústria rural. Hoje, já mais explícita na música essa “parceria”, constantemente vemos menções à pecuária, a plantação de soja e dos itens de luxo de grandes fazendeiros, como caminhonetes, rebanho de gados e o enriquecimento dessa classe.

Um claro exemplo é uma parte da letra de “Agro é Top”, da dupla Léo e Raphael, composta por Henrique Tranquero, Leo Targino, Moura e Tunico:

“AGRO É TOP, AGRO É CHIQUE, AGRO É SHOW, AGRO É NÓS

QUEM É FÃ DE CHURRASCO E MODÃO DE VIOLA PODE ACOSTUMAR COM NÓS (…)”

Entre vaqueiros, fazendeiros e boiadeiras, o ‘agronejo’ vem conquistando o público de maneira que não víamos desde o surgimento do sertanejo universitário. As letras chicletes, recheadas de batidas de funk, são o combo perfeito para a viralização em aplicativos como o Instagram e principalmente o TikTok, já que as coreografias parecem fazer parte dessa nova vertente.

E isso vem conquistando – e muito – o público. Praticamente todos os artistas dessa nova vertente estão muito estourados nas plataformas de streaming, e no momento que escrevo essa coluna Ana Castela ocupa o topo do Spotify Brasil com “Bombonzinho“, em parceria com Israel e Rodolffo. A estrela ainda aparece no topo 10 com “Roça em Mim“, com Luan Pereira e Zé Felipe.

Fato é que o ‘agronejo’ vem chegando com os dois pés na porta da música sertaneja. Assim como a transformação para o sertanejo universitário, acontecida em meados dos anos 2000, ainda há alguma resistência para a nova vertente e os cantores que estão surgindo, mas o espaço que eles vem conquistando é muito mais significativo que qualquer torção de nariz.

Não vai demorar para que os maiores cantores sertanejos da atualidade – que tem carreira consolidada há alguns anos – se joguem na fama do ‘agronejo’, assim como fizeram com a bachata trazida por Gusttavo Lima anos atrás. Será que, depois do sertanejo se incorporar à música latina, ao funk e ao piseiro, a sua vertente com maior força vem de dentro da própria música sertaneja?

Sim. Essa pode ser a nova renovação da música sertaneja; e os números e interesse do público não mentem. Se há consumação o gênero, ele certamente irá crescer e se perdurar, e aqui vemos um fenômeno muito parecido com o sertanejo universitário. Se o ‘agronejo’ vai se manter na indústria é um papo para os próximos meses e anos, mas até aqui tem sido muito interessante acompanhar a sua evolução.

Fazendinha Sessions: o agronejo reunido como um ‘poesia acústica’

Eu não poderia encerrar essa coluna sem citar a “Fazendinha Sessions“, uma espécie de “poesia acústica” da música sertaneja. O projeto, criado por Ana Castela, US Agroboy e Luan Pereira, ambos do mesmo escritório, é produzido por Eduardo Godoy e recebe outros sertanejos em suas ‘sessões’ e cada um canta seu verso.

O resultado é tão grande que a Warner Music se interessou e fechou um contrato fixo com o projeto, garantindo assim muito mais qualidade e estrutura para os próximos volumes – que ainda não tem data para chegar nas plataformas de streaming.

Aqui é o berço do ‘agronejo’ da forma mais pura que conhecemos, mas o resultado fica muito bom. Destaque para o segundo volume, batizado de “Vai Ser Bão Pra Lá”, que traz sertanejo, funk, música romântica e modão em apenas uma música, além de uma homenagem para Aleksandro, morto em um acidente de ônibus no ano passado.

Vale a pena conferir:

Da redação do Diário do Acre, com informações de Hernane Freitas do movimentocountry.com

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