Setor de pescado pede linha emergencial após tarifa de Trump

Setores brasileiros afetados pela tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já se movimentam na direção de um amparo financeiro para conter os efeitos da medida americana. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) entrou com um pedido formal ao governo brasileiro para uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões. 

O valor seria para capital de giro das empresas, de acordo com o diretor-executivo da Abipesca, Jairo Gund. Como ele explica, essa é uma alternativa para que não seja feita uma ruptura na cadeia, já que os peixes da piscicultura, por exemplo, que seriam endereçados ao mercado americano nos próximos meses já estão nos tanques. Uma interrupção drástica poderia prejudicar os produtores no curto prazo.

“Esse é o valor de crédito que nós precisamos para suprir as indústrias exportadoras, para conseguir refinanciar os estoques e ganhar um fôlego para tentar escoar isso em outros mercados. Reprocessar parte dessa produção, armazenar, ganhar tempo para que a gente consiga não ter ruptura na cadeia. Porque é tudo uma engrenagem”, explicou à reportagem.

A análise da entidade é de que sem uma resposta rápida, cerca de 35 indústrias e de 20 mil trabalhadores devem ser impactados com cortes de pessoal e paralisações das operações fabris. A associação ainda aponta que até o momento aproximadamente R$ 300 milhões em pescados estão parados depois que houve o rompimento de contratos, como já mostrado pelo Agro Estadão. 

O documento pedindo a linha sugere ao governo que seja dado seis meses de carência e um prazo de 24 meses para o pagamento do crédito tomado pelas empresas. Outro pedido é de uma intensificação nas negociações para a reabertura do mercado da União Europeia, fechado desde 2017. A indicação é de que o tema seja tratado a nível presidencial, ou seja, entre os líderes dos países. 

Proposta de amparo financeiro está na mesa do Governo

Nesta segunda-feira, 21, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que ainda nesta semana deve haver uma apresentação de propostas ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é que Lula escolha como será a atuação brasileira na resposta à tarifa americana. 

“Estamos com um grupo de trabalho preparando para apresentar esta semana ao presidente quais são as alternativas que nós temos, tanto em relação à lei de reciprocidade, quanto em relação ao eventual apoio que o presidente queira considerar aos setores mais prejudicados”, comentou Haddad em entrevista à rádio CBN. 

Questionado sobre uma linha de ajuda às empresas afetadas, Haddad não descartou essa forma de ajuda e pontuou que isso deve ser levado ao presidente Lula dentro de uma plano de contingenciamento que está sendo elaborado. “Pode ser que nós temos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados e são setores que têm relação de décadas com os Estados Unidos”, disse.

O ministro ainda cobrou uma resposta do governo americano sobre as sugestões de propostas encaminhadas pela parte brasileira. Ele também destacou que o Executivo trabalha com diferentes cenários, inclusive, o de que as tarifas entrem em vigor no dia 1º de agosto, como anunciado. 

Haddad ainda apontou que é possível fazer o redirecionamento das exportações, mas não seria uma solução de curto prazo. “Nós vamos tomar medidas necessárias. Mais da metade do que nós exportamos aos Estados Unidos nós podemos endereçar para outros países, só que isso leva algum tempo. Você tem contratos assinados que estão sendo rompidos”, destacou o ministro, que ainda afirmou que a radiografia que o governo está fazendo está no nível de empresas e não mais setorial.

Plano de contingência pode não ser efetivo na ponta

Na avaliação do sócio diretor da Markestrat, José Carlos de Lima, uma possível medida de ajuda aos setores “merece atenção”. O receio do analista é de que o apoio não chegue na ponta. “O risco é o governo concentrar esforços apenas nas grandes empresas exportadoras, ignorando a rede de suprimentos formada por pequenos e médios produtores que, em muitos casos, serão os primeiros a sentir os efeitos e os últimos a receber qualquer apoio”, destacou ao Agro Estadão. 

Ele cita alguns exemplos, como as cooperativas de café de Minas Gerais e Espírito Santo, que têm o intermédio de trading, além dos citricultores do Paraná e de São Paulo, que dependem de exportadoras de médio porte. Outra citação é com relação a pecuaristas integrados a grandes frigoríficos, já que eles necessitam de volumes exportáveis para os Estados Unidos. 

“O impacto real recairá sobre produtores regionais, cooperativas, transportadoras, fornecedores de insumos e serviços, que são componentes essenciais da cadeia produtiva nacional”, ponderou. 

Lima ainda indica que o governo deve prever medidas específicas para esses elos menores, como o crédito emergencial, alternativas de seguro-frete e fomentar a reorganização de cooperativas.

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