Em meados dos anos 60 eu era um adolescente que nunca havia saído da minha aldeia. Nasci em Bom Jesus, um remoto distrito da cidade de Tabira, no Vale do Pajeú, Sertão do Estado de Pernambuco. Início dos anos 70 é que fui estudar na capital pernambucana, depois de ter concluído o segundo grau num seminário da Ordem dos Carmelitas.
Vivendo nesse remoto lugarejo que veio a se tornar cidade em 1962, quando eu já estava com 07 anos de idade, tinha pouco acesso às informações. O rádio era o único veículo de comunicação. Lá ainda não havia nem telefone e nem rádio. Poucas pessoas na cidade liam os jornais que vinham da capital. Duas ou três pessoas se informavam por este veículo.
Em 1966 chegaram dois padres à minha cidade. O primeiro (P1) desconheço os motivos, logo mudou-se de Tuparetama – nome do meu lugarejo quando se tornou cidade – para assumir uma outra paróquia em Pernambuco. Este vocacionado para o sacerdócio. O segundo (P2) permaneceu por mais tempo. No início dos anos 70 licenciou-se do sacerdócio e foi ser professor numa cidade mais evoluída.
Recordo-me que, uns 02 ou 03 anos depois de implantado o Regime Militar, chegou à Tuparetama um oficial do Exército Brasileiro para tomar por termos as declarações de um dos dois. Creio que as do que veio a licenciar-se do sacerdócio. A cidade inteira tomou conhecimento do fato. Eu tomei conhecimento porque a Delegacia, onde o padre foi ouvido, ficava perto da minha casa.
Ainda hoje não sei o conteúdo das declarações prestadas pelo sacerdote. Mesmo porque, o que disse ao Oficial do Exército Brasileiro não foi divulgado. Os termos das declarações prestadas (acredito), foram levadas para o Batalhão do Exército na cidade de Caruaru. Ninguém nunca soube o que disse o pároco ao Oficial do Exército.
O líder político da região do Vale do Pajeú era Walfredo Siqueira. Elegeu-se deputado estadual à Assembleia Legislativa por 04 (quatro) mandatos. Foi presidente da Casa. Interinamente foi governador de Pernambuco. Apoiou o regime militar, tornando-se aliado de Paulo Guerra que assumiu o governo quando Arraes foi cassado pela Revolução de 64.
O que esse prócer (Walfredo Siqueira) dizia se propagava em toda a região. Ele era um representante do Governo Militar, e por conseguinte um porta voz do que pensava a caserna. Walfredo Siqueira, sobre os “padres progressistas”, dizia que, por baixo das suas batinas, a cor era “vermelha”. Não o ouvi falar tais coisas. Era o que tomava conhecimento nas conversas dos adultos.
Nos anos 80, na vigência do Regime Militar, foi expulso do Brasil (Pernambuco) o padre progressista italiano Vito Miracapillo. O autor da proposta de expulsão foi o ex-deputado federal Severino Cavalcanti. Resgatei na internet como vive o religioso. No governo Lula aguardava na Itália uma anistia, e quem se interessava pelo processo – li na matéria – era seu amigo Frei Beto, talvez o mais importante Teólogo da Libertação do Brasil, ao lado de Leonardo Boff.
No início dos anos 90 adquiri o livro “Igreja Carisma e Poder”, de autoria de Leonardo Boff, 3ª edição, Editora Vozes Ltda., Rio de Janeiro: 1981. Nesse tempo eu estava afastado da Igreja Católica. A discussão sobre a Teologia da Libertação não me provocava interesse. Acompanhei o debate sobre o que a Igreja pensava sobre essa teologia à distância. Não ousei ler o livro. Eu ainda tinha alguma simpatia pelo “socialismo democrático” – como se existisse – e consequentemente pela TL.
Mas, as visões foram se clareando. No ano de 2014 li o livro “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota”, do filósofo Olavo de Carvalho. Pela primeira vez tomei conhecimento de que Teologia da Libertação faz uma interpretação marxista dos Evangelhos. O livro referido, é composto de 192 artigos e ensaios do saudoso professor. Num dos artigos, pela primeira vez, tomei conhecimento da verdade. A verdade que liberta. TL é puro marxismo!
Não me recordo se foi nesse livro de Olavo de Carvalho ou em um post seu, que tomei conhecimento de outro importante livro que viria a me tirar as vendas dos olhos para entender o que é a TL. Refiro-me ao livro “Desinformação”, do Tenente Coronel Ion Mihai Pacepa. Esse autor afirma que a Teologia da Libertação foi criada pela KGB para confundir os Católicos da América Latina. Isto é, fazer com que a religião seja, efetivamente, o ópio do povo.
Decidi ler o livro de Leonardo Boff, mais de 15 anos depois que o adquiri (2015). Li marcando as ideias. É uma proposta nitidamente anticapitalista; e, em favor do socialismo. Não há dúvida de que a TL visa a libertação social do homem e não do pecado. Conclusão. Não é uma interpretação Cristã dos Evangelhos. Vejamos o que pensa Leonardo Boff:
“Lutando pela libertação econômica, social e política que abre a perspectiva para uma libertação em plenitude no Reino de Deus, ela está a serviço de uma causa universal. O capitalismo como sistema de convivência dissimétrica se apresenta como um empecilho à universalidade da Igreja na medida em que ela realiza somente os interesses de uma classe. Uma sociedade democrática e socialista ofereceria melhores condições objetivas para uma expressão mais plena da catolicidade da Igreja”.
Pelo texto acima não fica nenhuma dúvida de que a Teologia da Libertação é uma proposta socialista. Nenhuma dúvida! Leonardo Boff faz uma defesa claríssima do socialismo. Julio Loredo Izcue, diz que a Teologia da Libertação é um salva vidas de chumbo para os pobres.
Com a minha volta à Igreja Católica fui consultar o magistério da Igreja sobre o socialismo. Consultei a Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. O Santo Papa, na aludida encíclica, afirma: “Assim, esta conversão da propriedade particular em propriedade coletiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos operários mais precária, retirando-lhes a livre disposição do seu salário e roubando-lhes, por isso mesmo, toda a esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu patrimônio e melhorarem a sua situação”.
Leonardo Boff diz que no socialismo haveria melhores condições para expressão da catolicidade! O Papa Leão XIII diz o contrário! Fico com o Magistério da Igreja.
Há pouco tempo, para proferir uma palestra, vi um vídeo de Lula dizendo que a Igreja Católica da Teologia da Libertação foi fundamental para auxiliá-lo a chegar à Presidência da República.
Tudo ficou explicado por Lula! Compreendi melhor a “Teologia da Libertação”!