O PIB do agronegócio acumulou queda de 3,2% no ano passado, refletindo fatores como custos elevados de insumos, extremos climáticos e condições de mercado adversas. Essa retração impactou a contribuição percentual do setor para a economia nacional, evidenciando uma diminuição em relação aos anos anteriores, mas não tirou do setor a força motora do desenvolvimento econômico.
A importância do agronegócio também se reflete no mercado de trabalho. Ao todo, no Brasil, são quase 8 milhões de pessoas ocupadas no campo. Com carteira assinada, são 1,85 milhão de pessoas. Esses números são impulsionados principalmente pelo crescimento no segmento de agrosserviços e pela maior formalização do emprego, destacando a capacidade do setor de absorver mão de obra e promover inclusão de trabalhadores, mesmo com a mecanização e adoção de novas tecnologias.
Apesar disso, continuam as penalizações para o setor que garante os constantes superávits da balança comercial, com a diminuição de crédito e recursos para o seguro rural, a exemplo da suspensão de financiamentos do Plano Safra 2024/25. A vocação do produtor rural é cultivar a terra e produzir alimentos que vão para a mesa de milhões de brasileiros e bilhões de pessoas em todo o mundo. A falta de sensibilidade governamental e de conhecimento do agro, aliado ao descontrole nas contas, acabam sendo componentes importantes nessa fragilização da cadeia produtiva.
A proposta de zerar as alíquotas de importação sobre alguns produtos, anunciada como tábua de salvação para conter a alta dos preços, tem forte potencial para desestimular a produção e fragilizar ainda mais as cadeias produtivas brasileiras. Já vimos essa fórmula de, ao invés de dar suporte ao produtor nacional, promover a abertura para produtos estrangeiros, que às vezes vem com forte subsídio e sem atender às mesmas regras e protocolos de produção brasileiros.
Temos reiterado inúmeras vezes a relevância de uma melhor interlocução com os produtores rurais. Não se pode definir medidas que vão pressionar ainda mais as margens de uma cadeia produtiva de dentro de um gabinete, longe da realidade do dia a dia daquele que vive no campo. Alta do preço dos insumos, falta de espaço de armazenamento e logística de transporte ruim acabam prejudicando a produção, dificultando a estocagem e propiciando o desperdício.
Em suma, mesmo com a redução de sua participação no PIB em 2024, o setor agropecuário brasileiro permaneceu como um motor fundamental da economia nacional. Sua capacidade de gerar empregos, liderar exportações e sustentar a balança comercial evidencia a relevância contínua do agronegócio para o desenvolvimento econômico do Brasil. É preciso que o governo reconheça a importância do agro e passe a levar em consideração suas reais necessidades, ouvindo o campo e entendendo o impacto que decisões açodadas causam no setor.
Tirso Meirelles
Economista, administrador de empresas e produtor rural, especializado em Administração de Empresas e em Políticas Públicas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Como presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), eleito em 2023, lidera o fortalecimento de sindicatos rurais e a aproximação do setor agropecuário paulista às novas tecnologias para a melhoria da competitividade. Foi presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP), entre 2019 e 2022. É autor do livro: O impossível gerando o extraordinário.