Trump endurece discurso, Venezuela fala em ‘mentira construída’ e tensão atinge nível mais alto em anos

A crise entre Estados Unidos e Venezuela atingiu nos últimos dias uma escalada que há muito não se via no continente americano. A combinação de operações militares americanas no Caribe, declarações contundentes de Washington e Caracas, denúncias de uso excessivo da força e a polêmica afirmação de Donald Trump de que o espaço aéreo venezuelano estaria “fechado” criou um ambiente de tensão que desperta preocupação não apenas na região, mas em chancelerias e centros estratégicos de todo o mundo.

No centro desse cenário está Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, que elevou o tom e acusou os Estados Unidos de montarem o que chamou de “uma patranha” — uma mentira estruturada — para justificar ações militares sob o argumento do combate ao narcotráfico.

A denúncia de Caracas: “uma mentira para justificar agressões”

Rodríguez afirmou que não existe guerra declarada entre os dois países, mas que a atuação militar americana em águas caribenhas e próximo ao território venezuelano tem características de um conflito formal. Ele diz que o discurso antidrogas não se sustenta, e que a suposta campanha contra o tráfico serve como cobertura para pressões políticas mais amplas.

O parlamentar foi além, questionando diretamente a eficácia da narrativa americana: se o objetivo é combater o narcotráfico, por que, segundo ele, não há evidências de queda no consumo de drogas dentro dos Estados Unidos? Ele citou o fentanil, hoje responsável por dezenas de milhares de mortes anuais, além de cocaína e maconha. A avaliação de Caracas é que, quando os números oficiais forem publicados ao final de 2025, deverão mostrar crescimento, e não redução.

Rodríguez argumenta ainda que a rota internacional do fentanil é amplamente conhecida e não passa pela Venezuela, afastando seu país da responsabilidade por essa crise.

As operações militares americanas sob investigação

As denúncias da Venezuela não surgem isoladas. Segundo informações publicadas pela Reuters, a Assembleia Nacional venezuelana anunciou uma comissão para investigar uma série de ataques realizados por forças americanas contra embarcações suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas.

Essas ações, que começaram em setembro de 2025, somariam ao menos 21 operações, resultando em cerca de 80 mortos. Um dos episódios mais preocupantes envolve uma operação em que, segundo documentos citados pela Reuters, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, teria autorizado não apenas o ataque inicial, mas também um segundo ataque para eliminar possíveis sobreviventes. O Pentágono ainda não apresentou explicações públicas detalhadas sobre o caso. A investigação venezuelana envolverá também o Ministério Público do país.

A ligação entre Trump e Maduro

Em meio à escalada, Donald Trump confirmou uma ligação telefônica direta com Nicolás Maduro. Embora o conteúdo completo da conversa não tenha sido divulgado, fontes próximas ao governo venezuelano afirmam que o tom foi firme e refletiu o endurecimento da estratégia americana para pressionar Caracas.

A ligação aproximou duas narrativas opostas: de um lado, Washington afirma estar combatendo o tráfico internacional de drogas e respondendo a ameaças regionais; de outro, Caracas afirma ser alvo de uma campanha coordenada para desestabilizar o país.

Trump anuncia que o espaço aéreo da Venezuela está ‘fechado’

A tensão se ampliou quando Trump publicou que o espaço aéreo sobre a Venezuela deveria ser considerado “fechado em sua totalidade”. O anúncio, feito de maneira unilateral, gerou reações imediatas na comunidade internacional e indignação do governo Maduro, que classificou a fala como uma ameaça direta à soberania venezuelana.

Apesar do anúncio, a Reuters ouviu autoridades americanas que afirmaram não haver confirmação de que o governo dos EUA esteja preparado para implementar de fato um bloqueio aéreo formal — algo que, se ocorresse, teria efeitos concretos sobre a aviação civil, comércio regional e até operações humanitárias.

Movimentação militar e risco de escalada

Segundo fontes de defesa consultadas por agências internacionais, os EUA avaliam a possibilidade de uma “nova fase” de operações contra a Venezuela. Isso significaria ações não limitadas ao mar, podendo avançar para incursões terrestres ou aéreas. Esse cenário, que até pouco tempo atrás seria considerado extremo, agora é discutido seriamente em círculos estratégicos.

A simples possibilidade de tal movimento coloca a América Latina em alerta. Governos da região acompanham com preocupação a possibilidade de um confronto direto entre os dois países.

O que está em jogo

A disputa entre Estados Unidos e Venezuela vai muito além de barcos interceptados ou discursos públicos. O que se observa é:

  1. Um crescente uso do discurso antidrogas por Washington como justificativa de ações militares ampliadas;
  2. Uma Venezuela que, fragilizada economicamente, mas politicamente alinhada a aliados como Rússia, China e Irã, vê riscos reais de intervenção estrangeira;
  3. Um cenário de incerteza regional, em que cada declaração pública aumenta a tensão;

No centro de tudo, está uma pergunta central: as operações americanas são realmente parte de uma estratégia para conter o tráfico de drogas ou representam um movimento mais amplo, com efeitos políticos diretos sobre o governo Maduro?

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