A Comissão Europeia determinou, nesta segunda-feira (08.12), o recolhimento de lotes de carne bovina brasileira após a detecção de hormônios proibidos em remessas que chegaram ao bloco no início do mês. Os produtos foram retirados das prateleiras em 11 países da União Europeia, além do Reino Unido, enquanto autoridades nacionais reforçaram a fiscalização em mercados como Alemanha, Áustria, Itália, Grécia, Países Baixos e Irlanda.
Até o momento, a origem exata dos lotes no Brasil não foi divulgada oficialmente. O episódio reacende tensões sanitárias justamente na semana em que Bruxelas discute pontos centrais ligados ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, em negociação há mais de duas décadas.
A reação mais dura veio da Associação Irlandesa de Agricultores (IFA), que classificou o caso como “preocupante” e sinal de falhas no controle sanitário brasileiro. Para o presidente da entidade, Francie Gorman, o episódio reforça argumentos contrários à abertura do mercado europeu à carne do Mercosul.
Na França, país que lidera a resistência ao tratado, produtores rurais intensificam a pressão sobre o governo. Apesar disso, o presidente Emmanuel Macron afirmou recentemente a empresários brasileiros que vê “perspectivas positivas” para o avanço do acordo. Poucos dias depois, porém, o Parlamento francês aprovou uma resolução rejeitando a assinatura — um gesto político que ainda pesa nas negociações.
Nesta terça-feira (09), a Comissão de Comércio Internacional (INTA) do Parlamento Europeu avalia um pacote de salvaguardas agrícolas. A medida busca oferecer garantias adicionais aos produtores europeus diante da possibilidade de aumento das importações do Mercosul. Entre as propostas em análise estão mecanismos de intervenção em caso de:
- aumento anual acima de 10% nas importações, ou
- queda superior a 10% nos preços internos.
Essas salvaguardas não decidem o acordo, mas são consideradas peça fundamental para destravar resistências internas e preparar o terreno para a etapa seguinte.
A votação do texto principal do acordo no plenário do Parlamento Europeu está prevista para a semana de 16 a 19 de dezembro, segundo o calendário divulgado previamente em Bruxelas. A assinatura do tratado só ocorrerá se houver maioria qualificada entre os 27 Estados-membros e aprovação no Parlamento.
Se confirmado, o acordo permitirá o envio ao bloco europeu de até 99 mil toneladas de carne bovina com tarifa reduzida e 180 mil toneladas de frango, ampliando espaço para as proteínas brasileiras em um dos mercados mais exigentes do mundo.
Especialistas lembram, porém, que incidentes sanitários, mesmo que pontuais, podem ganhar peso político em momentos de decisão. Apesar disso, reforçam que o Brasil segue como referência global em sanidade animal, com sistemas de controle e monitoramento reconhecidos por organismos internacionais.






