Um hectare, até 15 culturas: cooperativa aposta em diversidade para evitar oscilações

Por lá, o ditado de não colocar todos os ovos numa única cesta é seguido à risca. Com mais de 200 combinações diferentes de culturas, a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) leva a sério a palavra diversificação. O que começou depois de uma frustração com a monocultura de pimenta-do-reino, na década de 70, segue como referência até hoje. 

A Camta tem uma história de quase um século e nasceu com imigrantes japoneses que se instalaram na Amazônia. Está localizada em Tomé-Açu (PA), a aproximadamente 180 quilômetros de Belém (PA). As propriedades dos 170 cooperados marcam uma diferença em relação às outras zonas rurais das cidades da região. Isso porque, enquanto a pecuária a pasto é mais praticada pelos vizinhos, ali o que toma conta são os Sistemas Agroflorestais de Tomé-Açu (Safta). 

Imagine um condomínio de plantas, onde, em um mesmo hectare, pode haver até 15 variedades de cultivo. As opções vão desde especiarias, como pimenta-do-reino e baunilha, passando por frutas, como açaí, acerola, maracujá, pitaya, além de cacau, dendê, cupuaçu, chegando até culturas florestais, como ipê, andiroba, seringueira e mogno. Isso é o Safta.

“Todos os cooperados têm pelo menos três culturas que são economicamente viáveis. Eu, por exemplo, me concentrei em cacau, açaí e cupuaçu”, explica o presidente da Camta, Alberto Oppata. 

Segundo o produtor, a crise da pimenta-do-reino na década motivou os cooperados a adotar o sistema. Naquela época, após uma produção recorde, as lavouras foram comprometidas com a fusariose. Somando a isso, houve uma queda nos preços. A solução foi buscar alternativas para seguir plantando. 

“Por que é importante ter essa diversidade? Primeiro, questões ambientais. E outra coisa é que o produtor precisa de renda contínua. Todo mês, a gente tem despesa. Então, precisa ter essa receita por mês”, acrescenta Oppata. 

Ele ainda cita o exemplo do cacau, a segunda cultura em importância econômica na cooperativa, atrás do açaí, que corresponde a 60% do faturamento anual. “Num patamar de US$ 3 mil a tonelada do cacau, o cooperado não tem lucro com a cultura. Então, como é que ele consegue sobreviver? É porque tem o sistema agroflorestal, com cacau e açaí. Então, se o cacau tira [paga] a despesa, sobra o açaí”, exemplifica. 

Do pé para a geladeira

Diversidade também pode ser vista no catálogo de produtos feitos pela cooperativa, que conta com uma agroindústria. A capacidade de processamento anual da fábrica é de 10 mil toneladas de matéria-prima. Cerca de 4,5 mil toneladas são de açaí, que vira polpa ou sorvete. Desse montante, 3,5 mil toneladas são exportadas, principalmente para o Japão. 

Além de polpa de açaí, a fábrica produz outras 16 variedades de polpas, e não de frutas da região. “A graviola vem do Nordeste. O morango já vem de São Paulo. Ou seja, a gente faz um escambo com o pessoal de São Paulo, por exemplo, em que a gente manda cupuaçu e troca pelo morango, porque precisa ter no cardápio”, destaca Oppata. 

Outros produtos também são comercializados pela cooperativa, como as amêndoas de cacau, a pimenta-do-reino e o óleo de andiroba. No caso do cacau, o grupo vem tentando agregar valor com o beneficiamento para produzir chocolate, ainda em caráter experimental. Já a pimenta-do-reino é quase toda exportada, especialmente para a Argentina, enquanto o óleo de andiroba é aproveitado no comércio regional. O resultado foi um faturamento na casa de R$ 120 milhões no ano passado. 

*Jornalista viajou a convite do Sistema OCB

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