Faltando poucos dias para a eleição de prefeitos e vereadores, as pesquisas praticamente antecipam o resultado ou, pelo menos, indicam aqueles com maiores chances de vitória. A não ser pelo imponderável, há pouquíssimas possibilidades de que algo aconteça com força suficiente para que um determinado candidato perca a condição de favorito. Tanto que alguns analistas já estão procurando culpados para a derrota de uns e justificativas para a vitória de um, o que não é tarefa simples.
Sabemos todos que cada candidato tem uma persona pública e é sobre ela que se voltam os olhares dos eleitores. Além disso, há a campanha propriamente dita, ou seja, o trabalho dos profissionais de marketing e estratégia política. Atrevo-me a mencionar alguns aspectos tendo em vista a campanha em Rio Branco e os principais candidatos. Vejamos.
Ideologia – com a polarização estabelecida na política brasileira, o perfil ideológico-partidário do candidato praticamente expulsa uma parte do eleitorado claramente identificado com o lado contrário. Apesar de esconder cores, apoios e ideologia, Marcus Alexandre é notoriamente identificado com a esquerda, com o PT de onde saiu há muito pouco tempo, de modo que já na partida conta com o desapreço e a desconfiança dos eleitores de direita que são a maioria em Rio Branco.
Venho, aliás, sustentando na imprensa que a tentativa de transformar a eleição em uma escolha de síndico é limitada. Vimos os cardeais de cabeça branca do MDB, dos ilustres Flaviano Melo e João Correia, bem como do PT, de Jorge Viana ao candidato Marcus Alexandre (ops!, esse é do MDB), passando por Daniel Zen e o Senador Sérgio Petecão fazerem fila nas TV’s em entrevistas generosas, para levarem a campanha na direção do paupérrimo buraco da rua numa vã tentativa de afastar a ideologia da política. Como se não bastasse, muitos jornalistas insistiram quase diariamente na ideia de que Rio Branco é uma paróquia ignara em que os eleitores só querem saber de pavimentação e do horário dos ônibus.
Pois bem. Não é que de ontem para cá, um graduado membro da campanha do PETEMEDEBISTA danou-se a propagar uma mensagem com os dizeres “Sou Bolsonaro, +Sou Marcus Alexandre”? Que maluquice é essa? Se a eleição não tem nada de ideologia, se nem Bolsonaro nem Lula influenciam nada, por que cargas d’água o ex (?) petista resolveu tirar uma casquinha no apoiador do adversário enquanto esconde seu verdadeiro time – Lula, Marina, PT, Jorge etc… A quem pretendem enganar com essa potoca? Faltou juízo ou desespero não tem freios? Não, meu caro, Bolsonarista vota em Bocalom. Quer saber, pergunte à Michele Bolsonaro que estará em Rio Branco por estes dias.
Pelo visto, a estratégia de “limpar” o candidato vestindo-o de azul, reduzindo o debate a problemas paroquiais e direcionando a campanha para o buraco da rua não funcionou como esperado. Ponto para o Bocalom autoafirmado como Bolsonarista, sempre ombreado com lideranças do campo conservador.
Carisma – o toque personalíssimo do candidato, suas características como comunicador de promessas e planos, sua simpatia, seu apelo afetivo, enfim, sua identidade pessoal, tem um grande valor na escolha do eleitor mais simples e crédulo. Essa foi talvez a principal aposta da campanha do Marcus Alexandre, ou seja, fazer do candidato um amigão do eleitor, ainda mais considerando que, de fato, ele possui uma boa identificação com as periferias decorrente de suas passagens no setor público. Neste quesito, o Bocalom, apesar de vendido pela mídia como turrão e grosseiro foi, aos poucos, transformado numa espécie de paizão, sincero e assertivo. Penso que neste quesito, ambas as campanhas se equivalem.
Experiência e honestidade – como para ambos se trata de reeleição, é justo que suas realizações sejam postas à prova. O eleitor experimentou um e outro estilo, suas características, o perfil de cada um, as suas realizações, a honestidade com a coisa pública,ou seja, o administrador, foi submetido a uma “radiografia”. Como o Marcus deixou a prefeitura há seis anos, tornou-se mais difícil para ele evidenciar o próprio trabalho, enquanto Bocalom está em exercício, o que lhe garante meios de ação agora, imediatamente visíveis, palpáveis. Além disso, mesmo sendo uma obrigação de qualquer gestor, a preservação do próprio nome perante um corte ético desarma possíveis acusadores. Por nunca haver frequentado páginas policiais, Bocalom mais uma vez tem vantagem.
Apoio do Governador – obviamente importante, senão decisivo, tanto que o PETEMEDEBISTA Marcus esperou até os 45 do segundo tempo por um acordo com Gladson, o elevado prestígio do governador que indicou um bom candidato a vice, de seus secretários e de centenas de cargos comissionados, ofereceu ao Bocalom uma sinalização política de convergência e unidade da direita. Isso traduz-se em esperança de afinação administrativa e soma de esforços, o eleitor observa como uma promessa de mais recursos e trabalho em favor da cidade. Ponto para o Bocalom.
Apoio político – embora o Marcus apresente uma embiricica de pequenos partidos, eles são o que são, ou seja, pequenos, têm baixa representatividade. Veja-se que, somados, os partidos da coligação liderada pelo MDB, conta efetivamente com apenas DOIS parlamentares federais entre os ONZE, isto tem muito significado na campanha por arregimentar simpatizantes e eleitores associados a esses políticos. Mesmo que um ou outro seja menos atuante ou nulo na campanha, a fotografia política do Bocalom foi bastante ampliada. Contabilizemos ainda o número e qualidade eleitoral dos candidatos a vereador da chapa do Bocalom e veremos uma clara superioridade em relação a do MDB.
Recursos financeiros – em uma campanha eleitoral, os recursos são gastos majoritariamente na confecção de material gráfico, mobilização de pessoas e realização de programas de TV. Atualmente tais despesas vão por conta do Fundão Eleitoral que, no presente caso, é mais generoso na campanha do Bocalom por causa dos partidos coligados. Tem, portanto, um significado prático importante, pois viabiliza o desenvolvimento da campanha, o número e volume das manifestações de rua, a qualidade do material e dos programas eleitorais.
Penso que, excluindo o imponderável, estes são os principais fatores da campanha eleitoral de Rio Branco. A vitória de Bocalom está realizada? Não ainda. É preciso assegurar que no dia da eleição o embate não permita surpresas. Lembro bem da campanha do Mauri Sérgio quando de véspera o PT cantava vitória e, como uma avalanche, o MDB inundou a cidade de azul. É claro que os tempos são outros, o MDB é outro, os eleitores são outros, contudo, nada como estar atento. Um palpite? Sim. Bocalom ganhará a eleição.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS e em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro de contos mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com.