Valterlucio Campelo: ‘Imprensa ou zumbis acadelados?’

Uma das consequências mais funestas do processo político recente foi a transformação da imprensa em órgão auxiliar do poder. Com 95% dos jornalistas autodeclarados de esquerda, o Sistema que nos governa não teve dificuldades em avassalar os jornais, revistas e televisões. Com parte ainda significativa da população alimentando-se das migalhas de informação que vem das poucas emissoras de televisão, o governo manipula como quer a notícia e a não-notícia, ou seja, mostra e esconde o que quer.

Uma prova disso é o espetáculo degradante de subordinação jornalística ao poder através de duas notícias escabrosas, que assistimos nesta sexta-feira 28/03. A rigor, deveriam estar na página de polícia, pois são criminosas.

A primeira diz respeito à decisão do ministro Alexandre de Moraes o todo poderoso do STF, de fazer subir para a sua mesa, um velho processo do Gilberto Kassab que dormitava em alguma gaveta. Não por acaso, Kassab é o presidente do PSD, um robusto partido que tem em seus quadros 15 senadores (maior bancada no senado), 44 deputados federais e 3 governadores. Especialmente no Senado, o PSD é o fiel da balança. Se ele pender para o lado certo, a casa cai.

Pois bem. Com a notícia de que o Gilberto Kassab poderia apoiar a votação do PL da anistia, o ministro do STF não teve dúvidas, botou o PSD na parede com o velho processo. Chantagem na cara dura, reportada pelos jornalistas da Globo com a maior naturalidade e até uma certa ironia. Não, nenhum comentarista teve coragem de ver o obvio, de criticar, de se contrapor, de colocar em suspeição. Pelo contrário, comemoraram como uma grande sacada do Ministro. “Se votar, se lasca”. Estaria o ministro incidindo em crime de responsabilidade ao agir politicamente motivado, o que é vedado na constituição?

A outra, também de ontem, vem do ministro Flávio Dino, segundo o qual, os parlamentares que votarem a favor da anistia terão suas emendas vasculhadas da liberação até o último centavo gasto. Ora, estaria o ministro prevaricando, agindo somente por força do comportamento político do parlamentar? Não seria isso uma chantagem política?

Tanto quanto as duas movimentações supremas, é degradante o comportamento do jornalismo que faz transbordar para todo o país essa postura miserável. De alto a baixo, como se em uma estrutura jurídica, o jornalismo acadelado se repete alcançando os grotões do Brasil, fazendo natural o que não é, dando como normal o que é uma aberração.

Esse jornalismo pré-pago (royalties para o grande Hélio Fernandes) é, seguramente, um dos principais motores da desgraça que se abateu sobre o povo brasileiro, é o responsável por levar o país ao obscurantismo das torpezas escondidas, das vilanias normalizadas, da maldade banalizada. Enquanto enfiam nos bolsos algumas migalhas que caem do banquete, essa gente engana o povo em suas bancadas fedorentas.

Por essas e outras é que o jornalismo cidadão cresce tanto. A verdadeira notícia está hoje nos sites, nas plataformas, nas comunicações pessoais. E é por isso que querem tanto regulamentar a mídia, querem nos calar, querem que não saibamos os efeitos de medidas como as mencionadas acima, querem ter uma única versão dos fatos, ainda que seja assim, sem crítica, apenas enfiada goela abaixo.

É claro que também a mídia alternativa já está sendo adquirida, muitos veículos já venderam sua linha editorial para alguns poderosos, de todo modo, somente por aqui, digo, fora da mídia tradicional, haverá chance de forçar o equilíbrio, de não morrer definitivamente a verdade. Se nós, os cidadãos, não nos esforçarmos corajosamente para insistir na notícia, na crítica, na opinião lúcida, seremos dominados pelos zumbis que andam por aí ainda se fazendo de jornalistas.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

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