Como todos sabem, no próximo ano teremos eleição gerais no Brasil. Serão renovados os mandatos de 2/3 dos senadores (54), dos 513 deputados federais, de1059 deputados estaduais (incluindo os 24 distritais), dos 27 governadores e do presidente da república. É muito voto a ser dado e, portanto, muita responsabilidade para o eleitor que nesses tempos anda, com sobradas razões, desconfiado de seus representantes. Parece que a célebre frase de Ulysses Guimarães – “se está achando que seus deputados são ruins, aguarde os próximos” – se aplica.
Se tem tanta gente a ser eleita, imagine o quanto de candidatos à missão. Em 2022, nada menos que 29.526 postulantes tentaram um lugar nesse trem da democracia. São homens e mulheres que querem obter pelo apoio da sociedade a condição de seu representante, ou seja, de falar, legislar e executar em seu lugar e promover o bem comum. Isso na boa hipótese, porque, convenhamos, grande parte tem planos menos nobres.
Ao eleitor cabe, perante tal nível de oferta, impor filtros políticos, afinal, é disso que se trata – de cargos políticos. É aí que mora o perigo, porque muitos candidatos fogem como o diabo da cruz quando lhes são apresentadas as questões políticas a serem enfrentadas. Muitos deles buscam se aproximar daquilo que se convencionou chamar de “politicamente correto” e, assim, flanar sem confrontos, não ofender suscetibilidades, ou, não comprar briga com o eleitor médio, preferindo desideologizar o debate como se isso fosse algo saudável e não o emburrecimento do eleitor.
Tanto quanto possível, o candidato “sem lado” move a “janela de Overton” (leiam a respeito) (leiam a respeito) para o centro, abordando apenas questões consensuais e descartando temas polêmicos à direita e à esquerda. Alguns, aliás, já fazem isso durante o mandato. Se apresentam defensores das mulheres, dos negros, do meio ambiente, dos indígenas, dos LGBT…Z, dos animais, de todas as religiões… enfim, de tudo que lhes dê o conforto de não entrar em bola dividida. Além disso, vem a discussão dos temas básicos – saúde, educação e segurança, quando repetem os mesmos diagnósticos e soluções, muitas delas empacotadas nas famosas emendas parlamentares. É a festa do farisaísmo, da promessa sem lastro, do desfile de verdadeiras fuleiragens.
Penso que está na hora de os jornalistas de ofício começarem a engavetar seus questionários adocicados, de perguntas óbvias e respostas idem, e perguntarem aos pretensos candidatos sobre os temas polêmicos. Entre eles, as questões centrais do debate atual que são a liberdade de expressão, a ditadura do judiciário, o lawfare em curso, a prisão política de manifestantes de 08 de janeiro, a perseguição ao presidente Bolsonaro, a usurpação da atividade legislativa pelo judiciário e assim por diante. Nenhum candidato deveria se esquivar dessas questões com tergiversações e escapismos. É sim ou não. Garanto que isso será cobrado no processo eleitoral.
Há, por exemplo, quem, como eu, pense que qualquer candidato que considere aquelas manifestações de 08 de janeiro de 2023 como tentativa de golpe, em evidente atentado à lógica e aos fatos, lhes negando uma anistia total, merece um vigoroso pé no traseiro. Se defender a regulamentação das mídias, outro pé. Se defender o lawfare, mais um. Outros chutes se sucederão dependendo da disposição do eleitor.
Especialmente em processos eleitorais, não se pode passar o pano para candidatos que se escudam em pautas genéricas e difusas, de interesse geral obvio, para não se posicionarem claramente em relação a fatos atuais que atingem no âmago a democracia e a liberdade. Devemos forçar todos eles e elas, especialmente os atuais parlamentares, a tirarem as máscaras, antes de, como cidadão, lhes entregar a nossa confiança.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.