Há uma turma herdeira da tucanagem moribunda, misturada com alguns revisionistas da esquerda e mais um monte de gente metida a isentos, tentando formar um partido ou uma coalisão do tipo cinza – nem preto nem branco, que nas suas palavras viria para pacificar o Brasil, mandando Lula para o pijama e Bolsonaro para a cadeia.
Essa ideia, já foi explicitada por pessoas renomadas tipo o ex-comunista Roberto Freire e Aécio Neves, mais uma turma da Faria Lima, demonizando a polarização para, sobre ela, erguer um estandarte de paz, desde, é lógico, que essa paz enterre a direita e higienize a esquerda. Com aliados na imprensa pré-paga, cinicamente, esses grupos quase diariamente metem o sarrafo na polarização e no Bolsonaro como sendo seu causador.
Ora, ora. A bendita polarização (antagonismo ideológico), que na sociedade sempre existiu, se manifestou com clareza quando a tucanagem se ferrou, fazendo ver aos conservadores que se tratava de uma estratégia comumente conhecida de teatro das tesouras (leiam a respeito), que em resumo significa para a esquerda, dividir-se e digladiar-se em primeiro plano deixando a direita fora do jogo ou apoiando o menos esquerdista, no caso, os tucanos. Desde Fernando Henrique Cardoso até o Michel Temer esse embuste ludibriou o eleitor brasileiro. Bolsonaro surgiu como intérprete desse sentimento de orfandade.
Pois bem. Com o brasileiro se reconhecendo em um campo ideológico antagônico àquele que vinha prevalecendo e se entranhando em todos os setores, desde as universidades à justiça, contaminando todo o aparelho burocrático que aos poucos foi transformado numa espécie de “nomenklatura” para onde são drenados os recursos públicos, a divisão se tornou clara e necessária.
Essa historinha de consenso social, de nem ali nem acolá, de nem duro nem mole, simplesmente NÃO EXISTE em lugar nenhum. Veja-se o que está acontecendo nos EUA, na Europa e aqui mesmo na América Latina. A democracia se mantém e se aprimora pelo exercício permanente de luta política. Essa proposta sonsa é conversa de invertebrados ou de oportunistas, que pretendem provocar um vácuo por onde possam se enfiar para depois de instalados moverem a máquina progressista.
Essa potoca “pacificadora” sobre o sacrifício de 2.000 (arredondando) presos políticos, da eliminação de Jair Bolsonaro do cenário político, do exílio de oponentes, de censura e repressão, em troca do enterro de um finado moral e político – Luiz Inácio Lula da Silva, é um ardil evidente.
Além disso, a insistência na demonização da polarização tem o caráter perverso de atribuir culpa a quem é vítima. Ela começou com o Lula que criou e estimulou desde seu primeiro mandato no “nós contra eles”, foi alimentada pela esquerda nas universidades, na imprensa, nos meios culturais, nos sindicatos, enfim, em todas as circunstâncias e chegou ao ápice com a tomada do judiciário, que solapou a Constituição Federal, deu cavalos de pau sucessivos, enterrou a Lava Jato, soltou o meliante e elegeu-o tratorando o candidato contrário. Os conservadores são vítimas de sucessivas agressões, não podem ceder a quem chega agora dizendo “deixem de briga”, em nome de uma pacificação fantasiosa e impossível no mundo moderno. Isso tem cheiro de tirania disfarçada.
É possível baixar a temperatura? Sim. Em primeiro, anulem todos os processos relativos ao 8 de janeiro, mandem para a primeira instância e lá, mediante apuração legítima, conforme o devido processo legal, que cada um pague conforme sua conduta. Em segundo, encerrem o inquérito do fim do mundo e anulem-se todas as decisões contrárias à liberdade de expressão. Em terceiro, tirem suas garras do parlamento, voltem ao balizamento constitucional. Em quarto, realizem eleições livres e limpas, com apuração e contagem PÚBLICA e auditável. Restaurem a democracia, com certeza dará bem menos trabalho do que deu para destruí-la.
De resto, mantenha-se à luta política. A alternância do poder é natural, ganhem e percam conforme a vontade do eleitorado, reciclem suas posições ideológicas, debatam seus projetos para o país, avancem na promoção de uma sociedade saudável e aberta, alimentemos a chama da liberdade, sem o que nada mais importa.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.