Valterlucio Campelo: ‘Um cadáver no Plenário do STF’

Morreu nesta segunda-feira, no Distrito Federal, mais precisamente no Complexo Penitenciário da Papuda, enquanto tomava banho de sol, o Sr. Cleriston Pereira da Cunha (o Clezão), de 46 anos de idade, baiano, casado, pai de duas filhas, comerciante em Brasília, que estava entre as centenas de pessoas consideradas pelo STF como autores de uma fantasiosa tentativa de “golpe de estado”, sem armas, sem apoio militar de qualquer espécie, sem líderes, sem partidos, sem organização, sem sequer uma palavra de ordem. 

Eram patriotas, a maioria idosos e mulheres, inebriados de um sentimento de defesa do Brasil. Atraídos e consentidos na esplanada dos ministérios algumas dezenas adentraram as instalações dos três poderes e lá praticaram uma série de vandalismos inaceitáveis, diga-se, sob o olhar complacente de quem deveria impedi-los. Um erro que lhes custou a liberdade em um processo kafkiano que pôs por terra o estado de direito e, ao mesmo tempo, entregou à esquerda uma jóia narrativa explorada à exaustão. As palavras “Bolsonaristas, golpistas, terroristas!” saíam das bocas petistas como lavas de vulcão, pronunciadas cinicamente nas televisões, nos discursos e até nos solenes pronunciamentos de autoridades togadas.

O processo kafkiano iniciou com o crime de perfídia, teve continuidade com a criação de um Gulag provisório, e firmou-se com a prisão de mais de um milhar na Papuda. Daí em diante, sem individualização da conduta delitiva, vieram as prisões em baciadas, as liberações com tornozeleiras em lotes e, por último, condenações prontas de véspera. Advogados que se sujeitaram ao teatro sabiam que nada que dissessem mudaria uma vírgula no julgamento ou na sentença.

Cleriston ficou na Papuda, não foi “beneficiado” com a tornozeleira que muitas idosas escondem quando vão à missa, e envergonha e impede a volta de centenas de trabalhadores à vida normal. Apesar de relativamente jovem, Cleriston era doente e inspirava cuidados, seu quadro clínico como atesta o relatório médico abaixo, de 27 de fevereiro, incluía risco de MORTE. Definitivamente, ele não poderia estar ali. 

Pense num criminoso horrendo e saiba que naquelas condições ele não poderia estar ali. Marcola, Fernandinho Beira-Mar, o maníaco do parque… vá pensando… Sabe a Dama do Tráfico? Frequenta Ministérios. Não, sob vigência da Lei, NINGUÉM sob a tutela do Estado pode permanecer sob risco de MORTE sem o tratamento e a proteção adequada. Aliás, sabe-se lá por que as razões, no Brasil, grandes corruptos e traficantes de alta plumagem, especialmente, são liberados num piscar de olhos. Mas Cleriston, o fantasioso “Bolsonarista, terrorista, golpista”, sem sequer ter sido condenado, sob risco de MORTE atestado em laudo médico, lá ficou. Para sempre. Seus netos não o conhecerão, suas filhas jovens ainda e sua companheira padecerão eternamente da ausência de um homem que por alguns dias se permitiu ser patriota.

O andar de cima do judiciário não foi informado? Foi sim, e com tempo. Bastante tempo. O laudo acima foi acatado seis meses depois pelo sub-procurador geral Carlos Frederico em 1 de setembro, ou seja, há 80 dias. Oitenta dias! foi o tempo que o juiz do caso e sua imensa assessoria tiveram para saber que já com o “de acordo” do sub-procurador, aquele réu não poderia estar naquele lugar, sob risco de MORTE.

Então, é o seguinte: O Cleriston foi preso, virou réu sem saber o que fez para tal (entrou para se proteger das bombas), é diagnosticado com doença que pode levá-lo à MORTE naquelas condições, o laudo passa seis meses para receber um “de acordo” do Ministério Público Federal, e oitenta dias depois o juiz supremo não viu, ou, se viu, não despachou. Resultado: MORTE. 

Onde o leitor acha que morreu de infarto fulminante o Cleriston? Sim, fisicamente ele morreu na Papuda, mas, simbolicamente, ele morreu no Salão Branco do Supremo Tribunal Federal. Há ali hoje um cadáver despido do devido processo legal, pronto para ser enterrado com a justiça brasileira.

Temos hoje no Brasil, para envergonhar qualquer vivente que tenha alguma vergonha na cara, a morte de um preso político, um homem assassinado pelo Sistema absurdo que comanda nossas liberdades, que diz do nosso ir e vir, que instaura processos de ofício em instância alheia e irrecorrível, que salta de seu quadrado constitucional para fazer política e disso se orgulha, que declaradamente tem lado. Quando a justiça tem lado, amigo, significa que um dos pratos da balança já tem um peso enorme e você está ferrado. Pense nisso.

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Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no site ac24horas e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do Percival Puggina e outros sites. Quem desejar adquirir seu livro “Desaforos e Desaforismos (politicamente incorretos)” pode fazê-lo por este LINK

PS. Sugiro acessar este LINK para entender melhor o caso.

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