Valterlucio Campelo: ‘Vamos lá Governador, é hora de decidir’

Os últimos dias foram pródigos em marchas e contramarchas políticas tendo em vista as eleições para prefeito de Rio Branco, ao ponto de deixar em parafuso os nossos melhores analistas. A questão causadora do reboliço é: para onde vai o PP, partido do Governador Gladson Cameli, de quem os candidatos mais bem colocados esperam o apoio e o prestígio?

Curiosamente, em Rio Branco, tanto o pré-candidato bolsonarista, no caso, o atual prefeito Tião Bocalom, quanto o lulopetista Marcus Alexandre, flertam com o apoio do governador se o seu partido, em definitivo, decidir pelo recuo na candidatura do secretário Alysson Bestene. Segundo articulações levadas à público, ambos oferecem ao bom Alysson, a vaga de vice na chapa. No seu partido, entretanto, não há consenso.

O mais recente evento da novela foi a irrupção da deputada federal Socorro Neri como alternativa, com o discurso de que não seria admissível o PP não ter candidato. É aí que estamos a valores de hoje, dia 03/05. O PP emperrado entre apoiar à direita o Bocalom, à esquerda, o Marcus Alexandre, ou lançar a deputada federal Socorro Neri, dado que, como cabeça de chapa, o Alysson foi definitivamente rifado. Pensemos.

Considerando as últimas pesquisas, até aqui cerca de metade do eleitorado já fez sua opção e se divide mais ou menos ao meio entre Bocalom e Marcus Alexandre. Vem daí algumas indagações:

– Qual o ponto de partida da deputada, se ela entrar no confronto?

– Essa candidatura quebraria a polarização atual?

– Ela teria o apoio integral do partido ou ele já está irremediavelmente fraturado?

– Que custos políticos seriam contabilizados no curso dessa candidatura?

Pode-se especular que uma boa pesquisa dirá a altura do piso eleitoral da deputada; que a campanha dirá se a polarização será mantida; que é possível recompor a base partidária; que os custos políticos podem ser jogados para frente (2026). Tá, mas isso tudo a levaria ao segundo turno derrotando um dos candidatos já colocados? Duvido. Embora seja possível, afinal em eleições deve-se lidar com o imponderável, não parece provável. Menos ainda se, como parece, a decisão não for consensual como poderia ter sido há alguns meses.

Outra hipótese, é de que o PP faça opção por apoiar o lulopetista lá compondo com a vaga de vice-prefeito. Bem, neste caso, a dificuldade conhecida de transferência de votos será máxima. Dado que desde o nível nacional o PP é adversário do lulopetismo e, no Acre, herdeiro da velha ARENA, é historicamente avesso à esquerda, o incremento eleitoral tende a ser muito baixo e o ônus político muito alto – a incoerência é traumática.

Resta a hipótese de participar da chapa do Tião Bocalom, unificando a direita contra o lulopetismo. Neste caso, o incremento eleitoral tende a ser bem mais elevado porque segue o sentimento do apoiador clássico do PP, ou seja, a velha tradição conservadora. Ao mesmo tempo, o ônus político seria praticamente nulo, pois desde o topo (direção nacional) até a vereança local estaria harmonizada, e mais, o Governador não teria que recompor sua base, nem alterar a administração estadual para acolher novos aliados. Some-se a tudo isso, a perspectiva clara de que, logo ali, numa eventual candidatura de Bocalom a algum cargo em 2026, o vice se efetivará prefeito com direito à reeleição.

Ouvi em algum lugar que, na hipótese de apoio ao Bocalom, o PP estaria se humilhando e virando puxadinho do PL. Ora, ora. Em primeiro, o PP ficou menor quando por sua própria decisão praticamente expulsou de sua sigla o prefeito da capital, de modo que recompor e ganhar a eleição é crescer. Em segundo, uma coligação na posição de vice não faz de nenhum partido um puxadinho, aliás, porque não se vê tal elaboração quando é para ser vice do lulopetista?

Creio, com todas as vênias e admiração que merecem os membros do PP, graduados ou simples eleitores e militantes, que pior do que apresentar uma candidatura de altíssimo risco e custos, sujeita a um fracasso retumbante, seria se aliar ao lulopetismo decadente, fracassado, autoritário e decrépito, como se viu no comício que Lula, Boulos, 10 ministros e centrais sindicais promoveram em São Paulo nesta quarta-feira, dia do trabalhador. Uma vergonha de público que pouco ultrapassou mil pessoas e deu chance ao crime eleitoral descaradamente praticado por Lula e Boulos, o invasor de propriedade alheia.

De todo modo, com o capital eleitoral que possui e na condição de governador do estado, é bastante razoável esperar que tome a melhor decisão para si, o seu partido e, principalmente, para a cidade de Rio Branco com repercussões nas eleições de 2026. Ressalte-se que não decidir é uma decisão e o fígado não tem neurônios.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no seu BLOG, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWSe em outros sites. Quem desejar adquirir seu livro mais recente “Pronto, Contei!”, pode fazê-lo através do e-mail valbcampelo@gmail.com

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