O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, enviado especial do setor à COP 30, apresentou nesta terça-feira, 28, em Brasília (DF), o documento “Agricultura Tropical Sustentável: Cultivando Soluções para Alimentos, Energia e Clima”, que reúne as principais propostas do setor agropecuário brasileiro para a conferência do clima, no próximo mês, em Belém (PA).
O texto busca reposicionar a agricultura como parte das soluções climáticas e defende que o modelo produtivo brasileiro pode ser replicado em outros países tropicais. A iniciativa — construída por especialistas, centros de pesquisa, entidades do agronegócio e cooperativismo — introduz o Fórum Brasileiro da Agricultura Tropical e defende um mutirão internacional de implementação climática guiado por três bases: ciência, inovação e inclusão produtiva.
Segundo o documento, países do cinturão tropical reúnem 40% das terras aráveis e mais de 50% da água doce do planeta, o que os coloca no centro da segurança alimentar, energética e climática.
A publicação sustenta que a experiência brasileira combina ciência, políticas públicas e empreendedorismo. Em 50 anos, a produção de grãos cresceu quase sete vezes, com salto de 229% na produtividade. O agronegócio responde por 23,2% do PIB, 26% do emprego e 49% das exportações do País. Na energia, 49% da matriz brasileira é renovável — índice que cairia para cerca de 20% sem a contribuição do campo.
“O que nos trouxe até aqui foi ciência e tecnologia”, disse Rodrigues. “A agricultura tropical brasileira, aplicada no cinturão tropical do globo, permitirá quatro coisas acontecerem: segurança alimentar, matriz energética renovável, geração de emprego e renda, e resistência à questão climática.” Segundo ele, esses pilares formam “a paz da agricultura tropical”.
Entre as propostas apresentadas, estão um plano de ação global (roadmap) de inovação e bioeconomia, a integração da agricultura aos mecanismos de financiamento climático pós-2025 e o apoio a florestas produtivas e sistemas agroflorestais, com instrumentos como pagamento por serviços ambientais (PSA) e mercado de carbono.
Financiamento é o maior desafio para implementação
Rodrigues destacou o desafio do financiamento e as barreiras comerciais enfrentadas pelos países tropicais. “O primeiro grande desafio é financiamento. Sem financiamento, essas coisas não andam adequadamente. E, segundo, uma flexibilização das normas de comércio, porque um protecionismo exagerado, como existe hoje em algumas regiões do planeta, inibirão o avanço de países mais pobres na adição do mercado. Então, esses dois pontos são principais para que as coisas sejam trabalhadas adequadamente”, afirmou.
Posição da FPA
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (REP-PR), destacou o peso simbólico da presença de Rodrigues como interlocutor do setor produtivo. “O documento apresentado hoje contempla o que o agro precisa falar e o que o mundo precisa ouvir. Ele mostra, com clareza, que o Brasil é exemplo em sustentabilidade e inovação”, avaliou.
Lupion também afirmou que o setor “condena sempre o desmatamento ilegal” e defendeu que o Brasil lidere parâmetros globais de preservação. “Se conseguirmos manter 20% de preservação obrigatória, o resto do mundo também pode. Vamos mostrar que produção e ambiente caminham juntos”, disse.
Investimentos
O embaixador Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, destacou duas frentes brasileiras: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e a meta anunciada pelo governo de quadruplicar, até 2035, a produção mundial de combustíveis sustentáveis.
O fundo é uma iniciativa liderada pelo Brasil, anunciada na COP 28, em Dubai, criado para ajudar a proteger e conservar as florestas tropicais do mundo. “[…] agora, nós queremos dizer também aos europeus, como diz a expressão em inglês, ‘põe o seu dinheiro onde a sua boca está’”, afirmou. “O Brasil fez o dever de casa e tem algo a mostrar ao mundo”, complementou o embaixador.






