Vidas Paralelas: Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos

Há várias informações contidas em livros e jornais de que o tenente-coronel (Guarda Nacional) Francisco Miguel de Siqueira, meu tetravô pelo lado materno, e o capitão (Guarda Nacional), Espiridião de Siqueira Campos foram contemporâneos e exerceram intensas atividades públicas concomitantes em Ingazeira e Flores, no Sertão de Pernambuco, no decorrer do século XIX.

Fazia já algum tempo que eu pensava em escrever algo sobre esses dois personagens, comparando suas biografias, já que suas atividades públicas ocorreram no mesmo período. Assim pensando, propus ao historiador e pesquisador Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos Farias, descendente do segundo personagem, que escrevêssemos a quatro mãos (artigo).

A sugestão de inspiração do título – Vidas Paralelas: Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos – é a obra do biógrafo e historiador Grego Plutarco, que eu havia lido faz muito tempo: “Vidas Paralelas: Alexandre e César”, os dois geniais militares da antiguidade. O Imperador Macedônico Alexandre, o Grande, e o maior imperador romano, Júlio César.

Feita a proposta ao meu amigo Hesdras Souto – que aceitou o convite dessa parceria – nunca mais falamos sobre o projeto. Hoje voltei a me lembrar do dever que me impus, ou seja, escrever a defesa da biografia do meu tetravô, comparando-a com a de seu parente Espiridião de Siqueira Campos, já que contra meu ancestral ficou registrado na memória dos seus pósteros, uma mácula em decorrência de sua ação em defesa do Império do Brasil, do qual era amigo e defensor.

Registro que Francisco Miguel de Siqueira e seu parente Espiridião de Siqueira Campos tinham as mesmas convicções políticas. Ambos militavam no partido conservador do Império do Brasil, e eram liderados pelo escritor e político Monsenhor Pinto Campos, cujo papel no Parlamento do Segundo Reinado merece todos os encômios. Da sua vastíssima obra literária, destaco a biografia de Dom Pedro II, com prefácio do escritor português Camilo Castello Branco.

Ainda não tenho muitos fatos a relatar sobre Espiridião de Siqueira Campos e sobre Francisco Miguel de Siqueira já o fiz em outros escritos. De forma que o que vou relatar abaixo é mais no sentido de suscitar a discussão sobre os dois personagens, esperando que, no futuro, meu amigo Hesdras Souto me socorra com mais informações sobre seu ancestral, permitindo assim o enriquecimento das biografias desses ilustres sertanejos.

Para dar início a esse debate sobre os dois personagens, valho-me do livro “Quebra-Quilos – Lutas Sociais no Outono do Império”, do escritor pernambucano Armando Souto Maior, editora Brasiliana, que traz importantes informações sobre os dois personagens, e as razões pelas quais lutavam, revelando identidade de convicções políticas.

Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos tiveram atuação significativa na repressão ao movimento “Quebra-Quilos”, que refletia, naquele momento histórico, a crise gerada entre a Igreja Católica e o Império do Brasil, como decorrência das posições assumidas por Dom Vital sobre a Maçonaria. Não é nosso objetivo aqui fazer nenhum juízo de valor sobre a crise. Quero apenas salientar de que lado ficaram Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos.

Eis o que diz o escritor Armando Souto Maior na obra citada:

Na localidade denominada Afogados, no termo de Ingaseira, distante apenas 59 quilômetros de Triunfo, a violência do quebra-quilos aos cartórios far-se-á sentir com uma característica curiosa: seu chefe é um capitão da Guarda Nacional, Jordão da Cunha França e Brito”.

O juiz municipal foi dramático ao anunciar ao Governo o ataque quebra-quilos: “Uma horda de vândalos capitaneada pelo capitão da Guarda Nacional deste termo  Jordão da Cunha França e Brito e pelo seu enteado Francisco Vasco Pereira de Moraes acabam de invadir a feira e casas de negócio deste povoado de Afogados, quebrando pesos e medidas e comettendo latrocínios e teriam causado prejuízos immensos se não fossem repelidos com energia pelo Capitão Espiridião de Siqueira Campos, tenente-coronel Galvino  Pereira de Moraes, Antônio Pereira de Moraes e o sub-delegado deste distrito”. (g.n.)

Um detalhe muito importante em seguida. Armando Souto Maior afirma que, quem instigava o povo a praticar o quebra-quilos, do púlpito, é um sacerdote. É exatamente esse padre que se desentende com Francisco Miguel de Siqueira, ficando esse desentendimento registrado no livro de Tombo da Igreja, maculando indelevelmente a biografia de Francisco Miguel de Siqueira perante as gerações futuras.

Fica registrado que esse religioso saiu chorando da Ingazeira, e sua mágoa manifestada contra Francisco Miguel de Siqueira. A razão é que estavam em posições diametralmente opostas relativamente ao movimento quebra-quilos.

Quem ler apenas o livro de Tombo não saberá porque o padre saiu chorando da Ingazeira, e atribuindo sua mágoa ao líder conservador Francisco Miguel de Siqueira.

Vejamos carta enviada pelo Juiz Municipal Suplente, Manoel José Nunes, ao governo, transcrita pelo autor do livro citado:

O vigário dessa frequezia, religioso secular, é acusado também, frontalmente, por suas atividades subversivas. Acrescenta o informante: “Devo informar a V. Exc. que o vigário desta freguesia  João Vasco Cabral d’Algonez, em suas prédicas feitas todos os domingos, na missa conventual, vive concitando o povo à revolta e a não obedecer ao governo (…)”. (g.n.)

A participação do tenente-coronel Francisco Miguel de Siqueira na repressão ao movimento quebra-quilos, se extrai do texto abaixo do livro de Armando Souto Maior:

A defesa de Flores era precária; praticamente estava nas mãos da Guarda Nacional  e de quem nela quisesse tomar parte. O promotor público, ao que parece, depositava suas esperanças no tenente – coronel Francisco Miguel de Siqueira…”.(g.n.)

Extrai-se do livro de Armando Souto Maior que Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos, estavam do lado da legalidade, defendendo a ordem.

Ambos (Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos), como membros da Guarda Nacional, tinham o dever de fidelidade para com o Império do Brasil e a defesa da ordem constitucional.

A propósito, eis o que dizia o art. 145 da Constituição do Império: “Todos os brasileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar a independência e integridade do Império, e defende-lo dos seus inimigos externos ou internos”.

O movimento quebra-quilos era um movimento de desordem, cujo objetivo era colocar a população contra leis aprovadas pelo Parlamento.

Francisco Miguel de Siqueira e seu parente Espiridião de Siqueira Campos estavam do lado certo. A queixa do padre que saiu chorando da Ingazeira em razão da atuação militar do líder conservador, não tem o condão de tisnar sua a biografia, como aconteceu.

A verdade histórica precisa ser restabelecida!

Consta também que Francisco Miguel de Siqueira e Espiridião de Siqueira Campos exerceram em Ingazeira atividades similares às de vereador (Conselheiros). Falamos sobre a militância política (conservadora) de ambos em outra ocasião.

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