O CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, afirmou que a rede no país não vai mais comercializar carne de países do Mercosul, o que inclui o Brasil. A declaração foi publicada nesta quarta-feira, 20, nas redes sociais do empresário e é endereçada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
Na carta, Bompard afirma ouvir em toda França, “o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul”. Ele segue mencionando “o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas”.
Diante disto, o CEO da rede na França, assegura que “o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.”
Bompard ainda apela aos donos de restaurantes “que representam mais de 30% do consumo de carne na França – mas onde 60% é importada – para que se unam a esse compromisso”. O dirigente diz esperar “inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade.” (Confira abaixo a íntegra do comunicado).
Segundo o grupo Carrefour Brasil, “nada muda nas operações” aqui no país.
Vale lembrar que a publicação da carta do CEO do Carrefour França acontece menos de um mês após o diretor financeiro da Danone francesa indicar que a empresa deixou de comprar soja brasileira.
Agro brasileiro rechaça declarações: “é protecionismo”
O assunto repercutiu entre o setor pecuário brasileiro que avalia como protecionista a atitude do CEO do Carrefour na França.
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) lamentou a “postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações.”
A nota segue: “o posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana”. Segundo o Ministério, “tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, não serão aceitas.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) também se manifestou. De acordo com a entidade, “ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, o Carrefour fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supera a demanda.”
Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) chamou de “infundadas” as declarações de Bompard “que se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês”. Para a ABPA, a “argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado”.
Para Maurício Veloso, presidente da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), a decisão de Bompard foi intempestiva e “faz com que a possibilidade de respeito por ele caia por terra”. “Ele [Alexandre Bompard] está muito preocupado com uma narrativa ligada à proteção de um pequeníssimo núcleo de produtores pecuários, em detrimento de toda a população francesa”, afirmou Veloso ao Agro Estadão durante a Feicorte 2024.
Conforme o presidente da Assocon, o dirigente do Carrefour francês quer penalizar a excelência da pecuária de corte brasileira, à revelia dos interesses mais legítimos que da população francesa. “Ele não merece resposta maior, apenas que ele seja devidamente ignorado”, enfatizou Maurício.
Íntegra do comunicado do CEO do Carrefour na França
“Senhor presidente,
Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas.
Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.
Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que comercializa.
Faço um apelo especial aos restaurante, que representam mais de 30% do consumo de carne na França – mas onde 60% é importada – para que se unam a esse compromisso.
Somente unidos poderemos garantir aos pecuaristas franceses que não haverá nenhuma possibilidade de contornar essa questão.
No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer.”