Os produtores de etanol de milho dizem estar monitorando a situação da tarifa dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. O motivo do acompanhamento não está na tarifa em si, pois o produto é pouco exportado para os americanos, mas sim nas negociações.
Um dos pleitos antigos dos Estados Unidos é a redução da tarifa cobrada pelo Brasil na hora de comprar etanol de fora. Atualmente, países do Mercosul, do qual o Brasil faz parte, cobram 18% na importação do produto. O receio é de que a isenção ou uma redução dessa alíquota esteja nas contrapartidas na negociação do tarifaço de Donald Trump.
“O que nós estamos fazendo é justamente monitorar essas tratativas do governo, nem muito perto nem muito longe, para entender quais são os assuntos que vêm à mesa”, comentou ao Agro Estadão o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco.
O entendimento é de que o governo não deve colocar o tema na discussão. “Tiveram algumas interlocuções do setor, tanto com o ministro da Agricultura [Carlos Fávaro] quanto com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio [Geraldo Alckmin], e a posição do governo é muito firme, que ele não vai entregar e não vai ceder a pressão em cima do etanol se ela vier a existir”, acrescentou.
Parte desse “monitoramento” já conta com um plano paralelo de convencimento do governo caso essa opção seja ventilada. Por isso, Nolasco diz que esse acompanhamento é de cautela.
“Estamos atentos e vigilantes, mas nós não podemos provocar um assunto, acender uma luz se ela está apagada. É importante, sim, a gente estar preparado com dados, números, fatos, para que se um possível ataque à tarifa de importação do etanol vier, nós possamos sentar à mesa e mostrar ao governo os pilares importantes desse setor no Brasil”, afirmou o presidente da Unem.
Cronograma de investimentos segue, mas com preocupação
A estimativa da Unem é de que o Brasil produza cerca de 10 bilhões de litros de etanol de milho neste ano, o que representaria cerca de um quarto da produção nacional do biocombustível. Parte disso vem de empresas que apostaram no ramo nos últimos anos.
É o caso da Inpasa, que inaugurou recentemente uma usina no Maranhão, segue em construção de outra em Luís Eduardo Magalhães (BA) e está consolidando o início da instalação de outra em Rio Verde (GO). O cenário com as tarifas e as barganhas que podem vir já causa receio.
“A gente está acompanhando com muita parcimônia toda essa discussão. Eu acho que o assunto é demasiadamente amplo, não envolve só a questão do etanol, mas a gente tem uma preocupação muito grande com essa visão, com a forma como a coisa vai ser encaminhada”, relatou à reportagem o vice-presidente de Trade da Inpasa, Gustavo Mariano.
Na opinião do executivo, uma alteração nessa tarifa irá prejudicar toda a cadeia, já que o Brasil “tem condições suficientes para suprir tudo que a gente precisa” em termos de etanol.
“É importante que haja uma relação de troca sadia entre os dois países, mas desde que ela seja sadia entre os dois países. Se ela for desbalanceada, a gente vai ter dificuldades com certeza absoluta”, pontuou Mariano.