A ditadura do pensamento único

Rodrigo Constantino escreve sobre o caso que envolve Antonio Risério, alvo de jornalistas da Folha de S.Paulo por ter publicado um texto acerca do racismo. Segundo Constantino, só quem vive em Marte não consegue perceber o viés esquerdista da imprensa.

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Quem hoje não percebe o viés esquerdista da velha imprensa vive em Marte. Todos já sabem que nove em cada dez jornalistas adotam uma visão de mundo dita “progressista”, associada até mesmo ao esquerdismo radical. O pacote é completo: defendem a ideologia de gênero, são simpáticos ao socialismo, enxergam com romantismo o regime ditatorial cubano, e por aí vai. Mas a coisa vai além disso: esses militantes disfarçados de jornalistas não toleram a mínima dissidência, encaram qualquer coisa mais à direita como inaceitável.

Vários jornalistas da Folha de S.Paulo sentiram-se à vontade para enviar uma carta aberta ao jornal, “pedindo” uma reflexão sobre o espaço concedido a textos “impublicáveis”. Eles mencionaram diretamente um texto que falava do racismo fomentado pela ideologia de gênero. Esses jornalistas enalteceram o “pluralismo” do jornal que os emprega, mas… e sempre o que interessa vem após o “mas”. No caso, o jornal não publicaria uma defesa do Holocausto, logo, não cabe permitir o contraditório em temas delicados como esse.

Racismo reverso é algo que não existe, alegam esses jornalistas. Ou seja, quando um negro chama os brancos como um todo de “malvados” ou de “demônios brancos” e prega abertamente o extermínio dessa “raça”, isso não é racismo, segundo os jornalistas da Folha. Para eles, no entanto, existe um “racismo estrutural” no Ocidente, ou seja, as instituições carregam o preconceito contra negros e por isso há tanta injustiça, não importa que negros americanos vivam com muito mais liberdade e prosperidade do que negros africanos, “protegidos” desse racismo.

Esses jornalistas autoritários querem cancelar até moderados como Leandro Narloch e Demétrio Magnoli, esse um sociólogo esquerdista, mas que condena as cotas raciais por entender que elas fomentam o racismo. Não pode haver espaço para qualquer coisa que não seja o dogma da esquerda radical, que pinta as “minorias” como vítimas sempre, e o homem branco ocidental como o algoz da humanidade. Se não encaixar nessa narrativa, fora!

Os jornalistas da Folha contaram com o apoio de colegas de outros veículos de comunicação, como Marcelo Lins, da GloboNews, que também aplaude a censura contra “negacionistas” na pandemia. O que podemos observar é uma mistura do totalitarismo ideológico desses socialistas com a luta pela reserva de mercado, de um tempo em que essa visão era não só predominante, mas basicamente hegemônica na mídia. E não havia o espaço das redes sociais para furar essa bolha.

Hoje, o viés da imprensa está escancarado, e esses jornalistas tentam censurar as redes sociais e expurgar dos principais veículos de comunicação qualquer um que não reze a mesma cartilha. Reparem que nunca vemos a expressão “extrema esquerda” ser mencionada nesses jornais, enquanto basta estar à direita dos tucanos defensores da socialdemocracia para ser rotulado de “extrema direita”. O lance é demonizar aquele que ousa questionar os dogmas “progressistas”, para interditar o debate, impedir o confronto de ideias.

Isso não é a postura de quem efetivamente defende o pluralismo. Veja, se alguém negar o Holocausto, a postura será tão bizarra que cai por terra imediatamente. O mesmo vale para os “terraplanistas”. Não é preciso calar quem diz que a Terra é plana, pois se trata de uma minúscula minoria excêntrica sem nenhuma credibilidade. Logo, a tática é misturar essas coisas com outras, bem mais passíveis de contestação, de modo a jogar para a marginalidade quem traz questões legítimas sobre temas polêmicos, como o racismo ou a escravidão.

Mostrar que a escravidão, por exemplo, foi a norma na humanidade, independentemente de raça, e que quase todos os povos escravizaram adversários quando tiveram a chance não é banalizar a escravidão de negros, mas pontuar um fato histórico. Assim como é importante para o debate lembrar que negros também tiveram escravos, que brancos também foram escravos, e que essa prática nefasta só teve fim justamente no Ocidente graças a valores liberais e cristãos.

Mas nada disso adianta: se o negro não for retratado como uma eterna vítima e o branco como o grande malvado, então não presta. E claro que isso é seletivo: nem todo negro merece essa defesa automática. Se for um negro de direita, por exemplo, ele merece todo desprezo do mundo, deve ser tachado de “capitão do mato” e pode ser devidamente destruído pela horda de chacais e hienas das redes sociais. Assim como a maioria desses jornalistas de esquerda é formada por homens brancos, que se sentem com procuração para falar em nome das minorias.

Na prática, não tem nada a ver com as minorias, e sim com o esquerdismo. Na imprensa, os próprios jornalistas fazem de tudo para impor uma ditadura do pensamento único. Quem mexer com o clubinho deverá ser ridicularizado e demitido. É a patota socialista tentando normalizar uma ideologia radical rejeitada pela imensa maioria da população. Alguém fica surpreso com a crescente perda de credibilidade desses jornais?

*Rodrigo Constantino é um economista liberal-conservador, autor do best-seller “Esquerda Caviar” (Editora Record).

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