As recentes colocações de Rodrigo Albuquerque, veterinário formado pela USP e pecuarista do canal Notícias do Front, trazem à tona a escassez de boi gordo no mercado brasileiro. Com a manchete provocativa “Boi gordo: procura-se, vivo ou morto!”, Albuquerque destaca a atual dificuldade de aquisição de boi gordo e o impacto disso no setor. O mercado vive uma espécie de “short squeeze” na pecuária, situação em que a oferta restrita não consegue atender à forte demanda, elevando os preços de forma considerável.
O cenário de forte valorização da arroba nos últimos meses, junto com a virada antecipada do ciclo pecuário trouxe uma forte demanda por parte de recriadores e invernistas. Esse conjunto de fatores tem puxado para cima os preços dos animais de reposição, colocando um alerta quanto aos cuidados nesse “boom” que vive o mercado do boi gordo.
Escassez do Boi Gordo e Impacto na Oferta e Demanda
A aquisição de boi gordo está extremamente difícil, resultando em escalas de abate apertadas e um desconforto crescente para as indústrias. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado do boi gordo acentua a alta dos preços, que ultrapassam a marca de R$ 330/@ em algumas regiões, segundo levantamentos recentes do Cepea. O cenário sugere que, a curto prazo, os preços devem continuar subindo, dado o contexto de uma oferta restrita e uma demanda interna e externa aquecida.
Exportações e Consumo Interno
O aumento nas exportações, especialmente para mercados como o chinês, mantém as indústrias exportadoras ativas e dispostas a pagar mais pela arroba, o que pressiona ainda mais os preços. Em outubro, o Brasil bateu um recorde histórico de exportação de carne bovina, com 319,3 mil toneladas exportadas, gerando uma receita de US$ 1,38 bilhão, conforme dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Essa forte demanda internacional é um dos principais fatores que sustentam a valorização da arroba.
Pressão de Preços e Substituição de Proteínas
Com a carne bovina encarecendo nas gôndolas dos supermercados, o impacto começa a ser sentido no consumo interno. Alternativas mais acessíveis, como frango, suíno, peixe e ovos, podem ganhar espaço na mesa do brasileiro, uma vez que a alta nos preços da carne bovina no varejo afeta o poder de compra dos consumidores. Essa substituição de proteínas é uma tendência natural em períodos de alta nos preços de uma determinada carne.
Influência Climática: “Boi de Lama”
Outro fator que pode afetar o mercado no curto prazo é o excesso de chuvas nas principais regiões pecuárias. As condições climáticas desfavoráveis, com lama nos confinamentos, dificultam a alimentação dos animais, causando desconforto e reduzindo o ganho de peso.
Essa situação, conhecida como “boi de lama”, pode levar a um aumento na oferta de gado gordo, uma vez que os pecuaristas são forçados a comercializar os animais para evitar perdas. A Agrifatto alerta que o excesso de chuvas pode trazer mais animais ao mercado nas próximas semanas, o que poderá aliviar um pouco a pressão nos preços.
Câmbio e Competitividade
O dólar, que fechou em R$ 5,73 na última sessão, também exerce influência sobre o mercado de carne bovina. A valorização da moeda norte-americana torna as exportações brasileiras mais competitivas, beneficiando ainda mais as indústrias exportadoras. Por outro lado, isso também torna a carne mais cara para o consumidor interno, contribuindo para a pressão de preços.
Cenário para os Próximos Meses
A expectativa para os próximos meses é de continuidade na valorização da arroba do boi gordo, caso os fatores de oferta e demanda permaneçam como estão. No entanto, os especialistas ressaltam que o impacto de fatores climáticos e o comportamento de consumo interno podem criar variações nesse cenário. Com o fim das chuvas e a recuperação das pastagens, a oferta de boi gordo pode aumentar, o que, em tese, poderia estabilizar ou até reduzir os preços.
A frase “Procura-se boi gordo: vivo ou morto!” resume bem o momento vivido pela pecuária de corte brasileira. A dificuldade de compra e o preço elevado da arroba refletem um mercado em desequilíbrio, pressionado por uma demanda forte e uma oferta limitada. O impacto disso será sentido tanto no setor produtivo quanto no bolso do consumidor, que já começa a buscar alternativas de proteína para driblar a alta nos preços da carne bovina.