Para muitos, a Sexta-feira Santa é apenas mais um feriado no calendário, um dia para descansar e aproveitar um tempo com a família. No entanto, para os cristãos, especialmente os católicos, essa data vai muito além de um simples dia de folga: é dia de relembrar a morte de Jesus Cristo, que, segundo a Bíblia, se sacrificou pela salvação da humanidade. Durante essa fase de luto, muitos fiéis adotam práticas como o jejum e a substituição da carne vermelha pelo peixe.
Segundo o padre Miguel Lisboa Aguiar Marcondes, da Paróquia Santo Antônio de Lisboa, a origem dessa “troca” de alimentos na Sexta-feira Santa vem da necessidade das pessoas se aproximarem mais de Deus: “É uma abstinência que as pessoas fazem de controle daquilo que está dentro delas, isso se chama vontade, para que as pessoas se aproximassem mais de Deus. Em outras palavras, significaria dizer que eu vou me abster daquilo que me ocupa, de não me inteirar totalmente a Deus para poder me inteirar de fato a Ele.”
Atualmente, o peixe é um produto conhecido por ser caro, principalmente na época de Páscoa. Um levantamento da empresa de dados para varejo e indústria Scanntech revelou que, em 2024, o bacalhau e outras espécies de peixe estavam 36% e 15% mais caros, respectivamente. O que chama atenção, porém, é que há muitos anos, o peixe era uma alternativa mais acessível para as famílias durante a Semana Santa, e que, por isso, a igreja orientava que todos optassem por ele.
“O peixe era uma comida muito mais facilitada do que a carne, no tempo de Jesus principalmente. As pessoas que tinham carne vermelha eram mais abastadas, tinham mais dinheiro. A carne sacia mais, enquanto o peixe não. Então a gente come o peixe, escolhe o peixe, porque ele é uma carne mais leve, de modo que nós não fiquemos empanturrados, mas voltemos de maneira mais próxima, mais rápida ao jejum que foi proposto na sexta. Para quê? Para se aproximar da paixão do Senhor”, diz o padre.
Miguel ainda explica que a ideia do jejum não é obrigar os cristãos a consumirem peixe, mas sim deixar de lado alguma coisa que eles gostam. “O jejum não diz ‘não coma a carne e troque pelo peixe’. Seria muito incoerente a gente trocar a carne e escolher um bacalhau, por exemplo. Porque a gente sabe que o preço do bacalhau é uma coisa alta, é exacerbante. Então, trocar a carne pelo peixe não é o intuito. O intuito é fazer o jejum, a abstinência, e não comer. Quem não pode comer o peixe, pode comer o ovo, pode comer uma omelete, algo que seja mais próximo da sua realidade, como a sardinha.”
O padre afirma que o jejum e a abstinência são feitos para pessoas acima de 16 anos e até 68, 70 anos. Depois disso o jejum é opcional. Segundo ele, pessoas que têm alguma comorbidade, como diabetes, são dispensadas do jejum obrigatório da sexta-feira a sábado. Ele também dá outras opções para aqueles que não conseguem jejuar, por questões pessoais ou sociais: “Se eu não consigo trabalhar com isso, fazer o jejum, fazer a abstinência, por questões pessoais ou outras sociais, eu posso fazer outra coisa. Eu posso substituir isso pela oração, pelo ombro amigo, pela escuta e pela caridade”.
Por fim, Miguel relembra aos cristãos o verdadeiro significado da Sexta-feira Santa e da Páscoa. “Não é um tempo de viagem, não é um tempo de feriado, não é um tempo de enforcamento de outro feriado que vem na segunda-feira, como o ano de 2025, mas é um tempo de reavivarmos a nossa fé na esperança de que Deus sempre nos salve, que enviou o Seu Filho para a nossa salvação.”