Do Acre ao Pacífico: como a agroindústria pode conectar-se ao gigante asiático

Não adianta tentar enxergar a China de 2024 com os olhos de 2004. Quem ainda pensa que o gigante asiático é só uma “fábrica do mundo” precisa urgentemente tirar os óculos cor-de-rosa da globalização e prestar atenção à realidade. Desde 2020, a China ultrapassou a soma da produção industrial dos Estados Unidos, Índia, Japão, Alemanha, Brasil e Canadá juntos. Não é pouco. Hoje, o país já responde por um terço de toda a indústria mundial, e isso não é coincidência ou fruto de alguma maré de sorte.

O relatório do Australian Strategic Policy Institute (ASPI), lançado em março de 2023, desmistifica qualquer ilusão: a China domina 37 das 44 tecnologias críticas globais, incluindo inteligência artificial, ciência espacial, robótica e tecnologia de defesa. A China não só quer, como está conseguindo se tornar independente do Ocidente em inovação tecnológica e conhecimento científico. Continuar tratando a China como uma mera fábrica é, no mínimo, uma cegueira intelectual que beira o provincianismo. 

Enquanto isso, no Brasil, há um Acre praticamente esquecido, mas que tem potencial para trilhar um caminho similar – ao menos na esfera da agroindústria. O estado está crescendo na produção de soja, milho, gado e café. Mas de que adianta produzir se falta o impulso industrial? É necessário transformar essa produção em algo exportável e competitivo. O novo porto chinês no Peru, uma obra bilionária que está deixando os Estados Unidos de cabelo em pé, pode ser a chave para isso. O megaprojeto deve reduzir em um terço o tempo que a produção brasileira leva para chegar ao Oriente. O Acre vai ser só um corredor, ou vai querer participar ativamente do jogo? A decisão, como sempre, é política – e sabemos como isso termina no Brasil.

E aí voltamos à nossa velha Petrobras e o Ibama, que mais parece uma âncora do que um órgão regulador. Saiu uma matéria mais cedo aqui mesmo no Diário do Acre, onde dizia que as negociações para viabilizar a licença ambiental de exploração de petróleo e gás na Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, estão “avançando muito“, segundo Rodrigo Agostinho, presidente do órgão ambiental. Avançando muito? Pode ser, mas vamos com calma.

Afinal, o Brasil é o país da espera. Estamos sempre esperando: o porto, a licença, a indústria. Esperando, quem sabe, que um dia as coisas finalmente aconteçam, sem perceber que o tempo corre – e a China, bem, essa não está esperando por ninguém.

As reflexões trazidas por este texto foram inspiradas em uma publicação do Acre2050, um think tank criado por jovens empresários acreanos que se dedicam a projetar o futuro do Acre em curto, médio e longo prazo.

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