Marli Domingos é produtora rural há seis anos em uma propriedade no Paranoá, a cerca de 19 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, no Distrito Federal. Foi na pandemia que a então colecionadora de suculentas e ex-dona de banca de jornal passou a vender as plantas.
“Eu já tinha muitas quantidades de suculentas. Veio a pandemia, estava todo mundo em casa sem o que fazer e as pessoas acharam nas plantas uma terapia, uma ocupação. Então as vendas de suculentas explodiram. Eu aproveitei a oportunidade e fui produzindo. A partir disso, eu entrei nesse ramo”, conta ela ao Agro Estadão, sobre como começou a Lili Suculentas.
Passada a procura da pandemia, era hora de encontrar uma nova forma de acessar os consumidores e, por isso, ela começou a se envolver com as feiras que, hoje, ela define como “o coração das vendas”. Segundo Marli, a maior parte do faturamento é garantida participando desses eventos. Só as feiras maiores, que costumam acontecer uma vez por mês, representam cerca de 50% da receita.
Para os pequenos produtores do Distrito Federal, esses momentos de exposições ajudam a dar vazão à produtividade. Hoje, Marli chega a vender cinco mil plantinhas por mês e tem condições de ampliar a produção, só não faz devido à falta de escoamento.
“O peso [dessas feiras] é absurdo. Eu não daria conta de escoar tudo que eu produzo e eu tenho capacidade de produzir, mas eu não tenho onde colocar isso. E tem procura. Então, [as feiras] agregam as pessoas que estão procurando o produto e a gente que tem o produto e está precisando escoar”, aponta a produtora.
O networking do meio rural
Além das vantagens na comercialização, as feiras grandes ou de bairro são palcos de networking para os pequenos produtores. Entre algumas visitas e conversas, o presidente da Associação Agroarte Cerrado, Marcos Mortozo, revela o que sempre costuma fazer nesses eventos quando vai pela primeira vez.
“Eu procuro conhecer aquele organizador e dar uma investigada para ver se tem abertura para a associação, para levar todos”, comenta. Atualmente, entre produtores rurais e artesãos, a entidade presidida por Marcos tem 15 associados e mais sete na fila de espera.
Essas associações locais têm funcionado como impulsionadores dos pequenos produtores. Uma das vantagens desses grupos é, justamente, participar de mais feiras. A Agroarte Cerrado tem presença garantida em pelo menos dois eventos aos domingos e 15 durante o mês.
Além disso, as feiras podem funcionar como um agregador de mais produtores. Isso completa um ciclo virtuoso: com mais feiras, mais produtores conhecem e se juntam, o que torna a associação mais conhecida e por isso, ela acaba recebendo mais convites para feiras.
“Primeiro [benefício das feiras] é para divulgar os nossos produtos, que acaba divulgando a nossa associação também. Além disso, nesse meio, a gente conhece outros produtores e que muitas vezes não estão em uma associação que leva os produtores para outras feiras dentro de Brasília. Outro ponto, é que, às vezes, circulam pessoas que organizam outros eventos. Já aconteceu de ter um pessoa com um evento, mas não ter um produtor de mel, então a gente tem um produtor para indicar”, diz o presidente.
Cultivo de uvas tem impulsionado feiras
Os produtores de uva do Distrito Federal conseguem colher duas vezes ao ano, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF). Isso favorece o surgimento de feiras temáticas. Só neste ano, os candangos receberam duas feiras voltadas para viticultura, a 4º Feira Nacional da Uva e do Vinho e a Expovitis Brasil 2024.
Sócia da Paraíso Cucas há oito anos, Jaqueline Rodrigues conta que o sócio Julio Holz já participa de feiras há mais de três décadas. O que começou com a venda de linguiças tipo Blumenau feita com receita familiar, passou para produção de vinhos, sucos naturais e cucas, que mudam de sabor de acordo com os produtos colhidos na propriedade. No caso da uva, são mais de três mil pés que costumam ser a matéria-prima de parte dos produtos vendidos pela empresa.
Com a ampliação da oferta de produtos à base de uva, a marca também tem conseguido entrar em mais eventos. A consequência é também um aumento na renda. “A cada evento a gente difunde mais a marca e alcança pessoas que não alcançaria estando fora das feiras. Se elas [feira] não existissem, cairia bastante o nosso volume de vendas anual. Por ano, nós costumamos participar de umas cinco feiras maiores, que representam uma média de R$ 300 mil de lucro por ano”, indica Jaqueline.