Dando sequência à série dedicada a avaliação do governo do Acre nos últimos seis anos, nos termos das publicações anuais de competitividade, pelo Centro de Liderança Pública – CLP, trazemos desta vez alguns dados e inferências relacionadas ao pilar Educação que no cômputo geral do índice tem peso de 11,4 em 2018 e 11,3 em 2024. Anteriormente, publicamos aqui no Diário do Acre, análises relativas à Segurança Pública, Sustentabilidade Social, Capital Humano Sustentabilidade Ambiental e Potencial de Mercado.
Desnecessário minuciar a importância da educação na construção de um ranking de competitividade. É de se supor, sem maiores elaborações que quanto mais bem avaliada a educação de determinado território, mais condições ele tem de competir com outros na perspectiva de desenvolvimento socioeconômico e bem-estar. É aceito internacionalmente que qualquer avaliação relacionada a um determinado conjunto de pessoas deve incluir o tema, pois dele decorrem grande parte do resto do elenco de critérios aplicáveis.
Em 2028, o Centro de Liderança Publica – CLP, responsável pelos dados que vimos apresentando optou pela observação de oito indicadores. Em 2024, este número foi reduzido para sete com a exclusão do índice PISA.
Sendo assim, podemos apresentar os dados de cada indicador nos anos 2018 e 2024, como na tabela abaixo, de modo a verificarmos, como é nosso objetivo, a alteração de cada um no período estudado, considerando desde logo que em 2018 o Acre ocupava a 19ª colocação no ranking e, em 2024 ocupa a 25ª, caindo seis posições na avaliação global de competitividade do pilar Educação. Observe-se que o índice 0,0 não é absoluto, mas apenas porque se trata de dados normalizados, em que o primeiro colocado é 100 e o último é ZERO.

Conforme se pode ver nos dados apresentados pelo CLP nos seus relatórios de 2018 e 2024, cuja metodologia está disponível (AQUI), o Acre fez no período avanços importantes, saindo da última posição no indicador ENEM e Taxa de Frequência Líquida do Ensino Fundamental. Em contrapartida, teve queda acentuada nos outros indicadores, de modo que a combinação de resultados empurrou para baixo a avaliação global.
A avaliação regional, ou seja, a comparação entre os estados da região Norte, dada as semelhanças, oferece a possibilidade de outras inferências. Vejamos na tabela 2 abaixo.

Parece ter havido uma perda significativa de posições nos estados da região Norte, vejamos que no conjunto, perderam vinte e uma posições e ganharam apenas quatro, o que aponta para um descuido geral em relação às condições de educação regional. Quatro dos estados perderam várias posições, enquanto apenas dois ganharam 2 colocações no período. De todo modo, vale investigar, criticar e compreender melhor a avaliação do CLP.
De modo complementar, trago uma recente avaliação do alfabetismo no Brasil, realizada pela Ação Cidadania e Instituto Paulo Montenegro, que desde 2001 produz um relatório de Índice de Alfabetismo Funcional – INAF, cuja finalidade é indicar as alterações no tempo da capacidade funcional dos brasileiros, no que se refere à capacidade de conhecer, ler, interpretar e produzir textos e operações numéricas.
No último RELATÓRIO, pode-se ver um quadro do percurso do alfabetismo desde a primeira edição em 2001. Vejamos abaixo:

Vejamos que a situação da educação brasileira é praticamente de penúria, dado que apenas 10% (era 12% em 2001), foram avaliados como proficientes em 2024, representando queda(!) em comparação com 2001. São 20 anos de andar de lado numa área fundamental da vida humana. Sim, o analfabetismo diminuiu, mas em que termos? Praticamente todo o ganho (de 5% em 23 anos) foi disperso nos outros níveis. Não é aceitável.
Com razão o leitor deve estar pensando que tudo mudou e que os jovens estão todos na execução digital de suas tarefas e isto implica perda de alfabetismo clássico. Será?
O INAF inovou em 2024 e mediu o medir o uso social da leitura, da escrita e da matemática em situações do cotidiano, produzindo um o indicador “capaz de refletir sobre novas habilidades e práticas voltadas para o uso das novas tecnologias, compreensão e produção de textos em diferentes mídias e linguagens, em especial as que envolvem o trato crítico com a informação e a opinião em contextos digitais”. Pois bem.
Entre várias inferências, o INAF chegou à conclusão de que da população entre 15 e 64 anos de idade, 25% apresentaram BAIXO desempenho digital (acertaram de zero a 1/3 dos itens do teste), 53% tiveram MÉDIO desempenho (acertaram de 1/3 a 2/3 dos itens do teste) e 54% tiveram ALTO desempenho (acertaram mais de 2/3 dos itens do teste).
No cruzamento com os dados de alfabetismo funcional, apenas 27% da população proficiente obteve ALTO desempenho digital. Os analfabetos funcionais, apenas 4% tiveram ALTO desempenho. O que isto tudo quer dizer? O estudo revela que a inclusão digital não é independente da alfabetização funcional. Grosso modo, pode-se dizer que gente que não seja pelo menos intermediário ou proficiente, dificilmente alcançará alto desempenho digital e, portanto, estará fora do mundo do saber para os próximos anos. Pensemos nisso.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWSe, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.