Valterlucio Campelo: ‘Déboras, Marias, Adrianas… 493 mulheres esperam por vocês’

Nos últimos dias estamos assistindo a enorme repercussão dos votos dados pelos ministros do STF, Alexandre de Moraes e Flávio Dino, pela condenação de Débora Rodrigues no processo relativo ao 08 de janeiro. De certo modo, cria-se outro emblema da crueldade algo sádica, com que os manifestantes presos estão sendo tratados.

Não bastasse o Clesão, torturado e morto sob a tutela do Estado, temos agora Débora Rodrigues, uma mulher de 38 anos, casada, mãe de duas crianças e trabalhadora como cabeleireira, sendo condenada a nada menos que 14 anos de reclusão e mais multa. O troço é tão perverso que levou o ministro Luiz Fux, que não é dado a esses expedientes, a pedir prazo e, com isso, postergar a decisão final. A sociedade brasileira não está engolindo essa loucura punitiva.

Para se ter uma ideia, Debora responde por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático e Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Um julgamento honesto, técnico, despido de vontade política, seguramente colocaria a Débora Rodrigues em liberdade com um pedido de desculpas, senão, vejamos:

  1. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático – pergunta-se de imediato, considerando que todo inquérito tem que individualizar a conduta, qual a violência empregada pela Débora durante essa suposta “tentativa”. Obviamente, NENHUMA, a não ser que aquela estátua tenha ganhado natureza anímica.
  2. Golpe de Estado – esse, o centro de toda essa pantomima que busca elementos para incriminar o ex-presidente Bolsonaro e retirá-lo do jogo político, exigiria que a sua ação contribuísse para que o resultado golpe fosse efetivamente alcançado, o que até aqui ninguém foi capaz de explicar. No máximo, conforme juristas do porte de Ives Gandra e Marco Aurélio Mello, ambos desinteressados (diferentemente dos ministros do STF), se trataria de crime impossível. Então, Débora é parte impossível de um crime impossível.
  3. Associação criminosa armada – Débora não conhecia praticamente nenhum daqueles manifestantes, não se relacionava com nenhum, não se associou a nenhum, não se vinculou a qualquer organização ou algo que o valha, não foi financiada por ninguém, não obedecia a nenhum comando até porque não havia comando… enfim, essa é uma acusação que beira o ridículo e serve apenas para pesar contra o alvo principal – Bolsonaro.
  4. Dano qualificado – bem, se houve um dano à estátua, este durou o tempo que leva uma escovada com água e sabão, o que de fato foi feito no dia seguinte.
  5. Deterioração de patrimônio tombado – uma visita à Praça do Três Poderes vai verificar que não há nenhuma deterioração. A estátua está inalterada, não foi sequer abrasada ou riscada.

Pois bem. Como se poderá, com honestidade e decência, levar esta mulher a uma cela por anos e anos, afastando-a do marido e dos filhos? Impossível.

A rigor, sabem todos os que enxergam a política além do esgoto da velha mídia e associados, que a condenação da Débora, assim como dos demais, por tem como objetivo apenas afirmar a narrativa da tentativa do golpe e, com isso, ancorar a condenação de Jair Bolsonaro como chefe da tal tentativa.

O raciocínio torpe, imundo, cruel, abjeto, psicótico que encharca a mente dessa gente é o seguinte: “Se não condenarmos essa gente toda por tentativa de golpe, como vamos condenar Jair Bolsonaro?”. Ao cidadão que argumentar a inocência dos manifestantes, eles responderão “Não interessa, temos que eliminá-lo”. E, assim, todos pagarão caro por um crime que não existiu, mas que precisaria ter acontecido para que um homem seja condenado. Kafka não pensou nisso.

Os deputados e senadores terão em breve a oportunidade de barrar essa banalização do mal, apoiando o PL da anistia. É a oportunidade que temos como brasileiros, embora não seja a melhor (corretíssimo seria anular a M* toda), de retroceder nessa infâmia.

Aliás, é bastante curioso que nesta quadra da vida política brasileira, as nossas deputadas não se apiedem de tantas mulheres que, assim como a Débora Rodrigues, estão sendo injustamente penalizadas, humilhadas, torturadas e abandonadas. Normalmente, elas – as deputadas, saem aos trombones para se dizerem defensoras do gênero, por que cargas d’agua sumiram ou se omitiram até aqui? Só merecem a tal sororidade se forem “de esquerda”, se comerem na mesma gamela woke?

Entre os acreanos, pelo menos com clareza, apenas Roberto Duarte, Eduardo Veloso e Coronel Ulysses se posicionaram a favor da anistia. Aproveito para dirigir às deputadas acreanas Socorro Neri, Antônia Lúcia e Meire Serafim um pedido público para que saiam do silêncio que se impuseram, da omissão evidente, e demonstrem aos seus eleitores que a defesa das mulheres não tem sigla, nem interesses subalternos. Mostrem sua valentia acreana defendendo Débora Rodrigues e todas as 493 mulheres que sofrem nas mãos cruéis desse regime tirânico.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

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