Valterlucio Campelo: ‘Parlamentares é o que sois! Coragem, ou então…’

Pressionado por parlamentares em número crescente, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, cujo pai anda com a Polícia Federal no cangote em vista de estrepolias encontradas lá pelas bandas de Patos na Paraíba, onde é prefeito, resolveu se manifestar sobre o PL da anistia dos presos políticos de 08 de janeiro de 2023, e o fez com uma atitude covarde, cínica, indigna para o cargo que exerce. Se bem que, depois de Ulysses Guimarães, aquela cadeira vem sendo ocupada frequentemente por gente da espécie Motta, o que atesta a miséria política brasileira.

Sem coragem para falar do mérito do PL, ou da situação dos presos, ou do processo absurdamente tirânico que os colocou na prisão, Hugo Motta, que ocupa o terceiro lugar na linha sucessória (depois de Janja e Geraldo Alckmin), saiu com uma fala frouxa de que não tomará decisão que “aumente a tensão entre os poderes,” não quer crise. Ora, ora, seu cretino, a crise já foi estabelecida desde que o Sistema elegeu o Lula na marra e investiu contra o conservadorismo na presunção de soterrá-lo. A forma de solucioná-la e sinalizar para a pacificação do país é justamente mover o PL e anistiar aquelas pessoas, dar por desfeita a enorme injustiça praticada em nome de uma suposta “defesa da democracia”, esse embuste apregoado com apoio da velha imprensa.

Não, senhor Hugo Motta, o momento não é de pôr panos quentes nesse processo que vivemos, a cada dia contagiando mais a sociedade que não suporta tanta injustiça. Não me venha com historinhas de amenizar a dose da punição – ela é totalmente injusta. O seu comportamento vil se assemelha à situação em que o estuprador é autorizado desde que não machuque demasiado a estuprada. Não nos convence.

A obrigação de Hugo Motta é viabilizar a votação do projeto pelos parlamentares. Eles que decidam o mérito e a oportunidade da anistia. Quem ele pensa que é para substituir no gogó 512 parlamentares e se esquivar de pautar o PL da anistia? Um deputado vindo das brenhas paraibanas, levado pelas circunstâncias brasileiras a um dos cargos mais importantes da república, não está autorizado a negociar a liberdade de centenas de presos em troca de favores ao papi enrolado com a execução de emendas parlamentares.

Do mesmo modo, os demais deputados não estão autorizados a hesitarem em relação a esse tema. O dever de cada um é pressionar o presidente e fazê-lo pautar o PL. Levem-no ao debate, discutam, contraditem, emendem e votem. Aprovem ou não, mas votem. Parlamentares é o que sois e não serviçais do STF ou de interesses subordinados à causa da vingança. Quem pratica agachamento é menina na academia querendo mais glúteos. Não fica bem para deputados ficarem nessa posição, enquanto os tiranos crescem diante de seus olhos.

Tem mais, o tempo urge e logo teremos um novo encontro nas urnas. Todos vocês terão que se apresentar ao eleitor e responder sobre o que fizeram, onde estavam, o que disseram, como votaram. Pelo menos tentaram salvar a sociedade desse rito macabro de construção de um sistema autoritário, injusto e despótico? Onde guardaram sua humanidade, para permitir que centenas de mulheres, muitas delas idosas e doentes, avós e mães, fossem mantidas presas e humilhadas? Como explicam aos seus filhos e netos que é mais proveitoso receber uma emenda parlamentar, quem sabe, indicar um carguinho, do que ser justa e coerente?

Sei que não é do agrado de alguns tomar decisões sérias e expô-las à sociedade, mas o momento exige pessoas fortes, os fracos é que se escondem, emudecem, não respondem, se fazem de moucos, mas creiam, estamos todos vendo tudo. Coragem!

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWSe, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

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