O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), criticou duramente o governo federal durante coletiva de imprensa, na tarde desta terça-feira, 01, após o lançamento do Plano Safra 2025/2026. Segundo ele, os números anunciados escondem informações relevantes e não atendem plenamente às necessidades do setor produtivo.
Lupion afirmou que o valor destinado à equalização de juros, de R$ 13,5 bilhões, representa queda de 17,5% em relação à safra anterior. O pedido das entidades do setor era de aproximadamente 25 bilhões.
O presidente da FPA também destacou que o Plano Safra anterior (2024/2025) entregou apenas 70% dos R$ 475 bilhões prometidos, com juros mais altos. “Com os juros e o montante anunciado, principalmente dos investimentos, a gente não vai ver produtor indo atrás de crédito para investimentos, vai ter um esvaziamento muito claro em tudo isso”, disse.
O deputado também voltou a alertar para os efeitos negativos da taxação das LCAs, instrumentos que, segundo ele, financiam mais de 40% do crédito rural. “Essa tributação compromete a competitividade, a segurança financeira dos produtores rurais e faz com que os investidores fujam de um título tributado”, disse.
Por fim, Lupion defendeu reformas estruturais, como o controle dos gastos públicos e a manutenção da isenção tributária sobre a cesta básica e exportações do agro. Para ele, o atual cenário fiscal pressiona os juros, encarece o crédito e compromete a produção. “O governo está oferecendo ao produtor um Plano Safra com custo recorde: mais de R$ 58 bilhões em juros”, concluiu.
Seguro Rural
Outro ponto criticado foi a ausência de previsão para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) no novo plano e o corte de R$ 450 milhões no seguro rural na safra atual. Até o momento, o governo não especificou a cobertura e os valores para a safra 2025/2026. Atualmente, há orçamento suficiente apenas para a safra de inverno de 2025.
Nesse sentido, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) criticou a falta de prioridade dada ao seguro no Plano Safra 2025/2026, especialmente diante das perdas enfrentadas por produtores gaúchos em razão de eventos climáticos extremos.
Segundo ele, o setor esperava uma resposta mais robusta do governo federal. “O que mais nos interessava que viesse nesse Plano Safra era a questão do seguro. Principalmente nós que estamos no Rio Grande do Sul”, afirmou.
Moreira lembrou que, no ano passado, a Frente Parlamentar da Agropecuária solicitou R$ 3 bilhões para o programa, mas recebeu menos da metade. “Pedimos R$ 3 bilhões e nos deram R$ 1,1 bilhão. Desses, ainda cortaram R$ 400 milhões poucos dias antes de anunciar o Plano Safra. Então, quem corta R$ 400 milhões a dez, cinco, seis dias antes, o que pode esperar de surpresa agradável? Com certeza não”, disse.
Juros altos para máquinas
Em relação às linhas anunciadas, o deputado Sérgio Souza (MDB-PR) chamou atenção para os juros elevados nas linhas de financiamento do novo Plano Safra, em especial para o Moderfrota, voltado à aquisição de máquinas agrícolas. “O que mais me assusta é uma taxa de 13,5% para o Moderfrota. Você imagina as feiras agropecuárias chegando agora, com taxa de 13,5% para o produtor rural, é algo assim que não vai caber no bolso”, afirmou.
O parlamentar alertou ainda que o encarecimento do crédito desestimula a renovação de máquinas e compromete o giro econômico da agroindústria. “Se o produtor não compra, a indústria não fabrica, e o governo também não arrecada. Esse círculo virtuoso para de girar”, completou.
Mais cedo, o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão, avaliou o volume anunciado como insuficiente e destacou que os juros foram mais altos que o ideal.
“Agricultura não se faz com marketing”, diz Tereza Cristina
Em um vídeo publicado nas redes sociais, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) também criticou o anúncio do Plano Safra 2025/2026, classificando-o como um pacote que, embora volumoso em números, não chega integralmente ao produtor rural. Segundo ela, no ciclo anterior, apenas 70% dos R$ 475 bilhões anunciados foram efetivamente desembolsados até maio.
“Na prática, não tem recorde. É muito difícil pegar empréstimo com a Selic a 15%”, afirmou, destacando que os custos de financiamento seguem elevados neste novo ciclo. Ela também questionou a ausência de garantias robustas: “Cadê o seguro rural? Foi cortado. Vem pela metade?”
A ex-ministra da Agricultura também apontou que o crédito anunciado para a agricultura familiar cresceu apenas 3% em relação ao ciclo anterior e que, segundo ela, apenas 80% desses recursos foram executados até o momento. “Agricultura não se faz com marketing. Precisa de crédito, precisa de seguro e precisa de confiança para que o agricultor possa planejar a safra”, criticou.